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sobre nós

Observatório de Censura à Arte

Plataforma que mapeia casos recentes de censura a artistas no Brasil lançada em 2019, o Observatório de Censura à Arte tem como marco inicial a mostra Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira (2017).

Os casos são coletados com base em denúncias e pesquisas em meios jornalísticos e de comunicação. Todos os casos têm sua veracidade checada antes de serem registrados na plataforma. Adotamos como metodologia critérios do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura da USP, que define a censura como “um ato que visa alterar, modificar, silenciar, interditar manifestações de produção simbólica – livros, revistas, charges, encenações teatrais, músicas, danças, pintura, desenho, notícias, conteúdos digitais, games.”

Reportagens

Uma plataforma busca mapear o cerceamento à liberdade artística no Brasil

A cultura como um direito humano: painel debate o status da liberdade artística

Ao menos 14 obras em homenagem a Marielle Franco foram vandalizadas nos últimos anos

Restauradores se mobilizam para recuperar patrimônio cultural vandalizado por golpistas

Relatório dos servidores da cultura revela risco aos acervos e autoritarismo dos dirigentes

Artistas são presos pela PM durante apresentação na Cracolândia

5 anos da Queermuseu: “Os efeitos mais nocivos da censura são silenciosos”, diz Gaudêncio Fidelis

Artistas rompem silêncio e relatam casos de assédio no trabalho

“Capoeira gospel” e falta de apoio público impõem riscos à roda de capoeira, aponta Iphan

Em audiência na OEA, secretário de Cultura diz que censura no Brasil não é real

OAB aponta “traços de fundamentalismo religioso” em ação contra Mário Frias no STF

Movimento pela liberdade artística denuncia censura a órgãos internacionais

Avança na Câmara projeto que transforma censura em improbidade administrativa

Dossiê Arte, Diversidade e Liberdade de Expressão: artistas compartilham relatos de violência no cotidiano

Entrevista: Cristina Castilho Costa, fundadora do Observatório de Comunicação Liberdade de Expressão e Censura (Obcom)

Jornalismo em Quadrinhos: a censura aos artistas no Brasil

Servidores da Cultura falam sobre dirigismo e censura ideológica do governo Bolsonaro

Artistas do hip-hop são alvo de criminalização e abordagens policiais

Tentativa de criminalizar artistas avança na Polícia Federal e no Judiciário

Podcast: cartografias da Censura à Arte no Brasil

Observatório de Censura à Arte divulga relatório inicial


Obras censuradas

SHOW DE JOHNNY HOOKER

Data – o8/03/2024

Cidade – Niterói (RJ)

Local – festival ID Rio 2024

Censor – Poder Executivo (prefeitura)

Caso – Um show do cantor Johnny Hooker que aconteceria neste sábado em Niterói (RJ) foi cancelado pela prefeitura após nova campanha que inflamou notícias falsas contra o cantor. Parlamentares de extrema direita circularam vídeos antigos no qual o cantor defendia a peça "O evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu". Outro show de Johnny em Boa Vista (RR) em setembro de 2023 também foi cancelado pelo mesmo motivo. "Vale lembrar que JH venceu todos os processos judiciais relacionados às falas do vídeo, publicado de maneira descontextualizada", diz a equipe em nota.

O AVESSO DA PELE

Data – o6/03/2024

Cidade – Curitiba (PR), Goiânia (GO) e Campo Grande (MS)

Local – escolas

Censor – Poder Executivo (prefeitura)

Caso – Os governos do Paraná, de Goiás e do Mato Grosso do Sul decidiram recolher o livro O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório, das bibliotecas escolares estaduais. A censura ocorreu poucos dias após o livro ser atacado pela diretora de uma escola no interior do Rio Grande do Sul. No estado gaúcho, a Secretaria Estadual da Educação emitiu nota afirmando que não iria recolher o livro e que ele continuaria nas escolas. “O Avesso da pele já foi adotado em centenas de escolas pelo Brasil, venceu o prêmio Jabuti, foi finalistas de outros prêmios, teve direitos de publicação vendidos para mais de 10 países, foi adaptado para o teatro. Além disso, o livro foi avaliado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), em 2021, ainda no governo Bolsonaro. A própria diretora assinou a ata de escolha do livro. As distorções e fake news são estratégias de uma extrema direita que promove a desinformação. O mais curioso é que as palavras de "baixo calão" e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras”, disse o escritor em suas redes sociais. Já nos estados do Paraná, de Goiás e do Mato Grosso do Sul, os ataques partiram do próprio governo. A editora Companhia das Letras também se manifestou: "A decisão de recolher um livro previamente aprovado e selecionado por uma banca de educadores, especialistas, mestres e doutores em literatura não apenas prejudica a qualidade da educação oferecida às nossas crianças e jovens, mas também mina a confiança no próprio programa e nas instituições responsáveis por sua implementação.

CARNAVAL DE CAMPINA GRANDE

Data – 16/01/2024

Cidade – Campina Grande (PB)

Local – áreas públicas

Censor – Poder Executivo (prefeitura) e Judiciário (Ministério Público)

Caso – A prefeitura de Campina Grande (PB) emitiu um decreto proibindo blocos de Carnaval de desfilarem em áreas públicas da cidade entre os dias 8 e 13 de fevereiro, justamente os dias de Carnaval em 2024. O decreto considera que essas datas devem ser exclusivas para a realização do "Carnaval da Paz", que reúne "vários encontros religiosos sobre fé, espiritualidade e autoconhecimento", segundo o diário oficial. Os blocos estão liberados para desfilarem antes ou depois do Carnaval, desde que não fiquem próximos de shoppings, terminais rodoviários, hospitais, prédios militares ou do Judiciário. Segundo o portal G1, o decreto é resultado de um Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre a prefeitura e o Ministério Público. Ao portal, a Defensoria Pública disse que a medida “viola a livre manifestação religiosa por outro grupos [...], incorrendo em gravíssima afronta a regras e direitos constitucionais, além do direito de reunião, previsto no art. 5º, XVI, da Magna Carta”. O prefeito voltou atrás após a repercussão do caso.

TRANSFORMAFEST

Foto: @camasao50

Data – 23/11/2023

Cidade – Florianópolis (SC)

Local – Centro Integrado de Cultura

Censor – gestor público

Caso – A V Transforma - Festival de Cinema da Diversidade de Santa Catarina foi proibida de usar linguagem neutra nos materiais de divulgação do evento. O festival começou na noite de quarta (22). Na manhã do dia 23, a equipe foi comunicada de que deveria tirar um adesivo escrito "sejam bem-vindes". A produção pediu tempo para dialogar sobre o tema, mas foi surpreendida quando funcionários retiraram o adesivo do local sem comunicação. "Importante pontuar que a plotagem do vidro foi autorizada pela administração do CIC, na etapa de pré-produção do festival, sendo este espaço utilizado por diferentes eventos anteriormente ao nosso", declarou a produção em nota nas redes sociais.

LIVROS DE FICÇÃO

Data – 09/11/2023

Cidade – Florianópolis/SC

Local – escolas públicas

Censor – Poder Executivo (governo do estado)

Caso – A Secretaria de Educação de Santa Catarina decidiu cercear o acesso de estudantes da rede pública a uma lista de livros. Um ofício distribuído aos gestores das escolas ordena que as obras sejam retiradas de circulação e não estejam acessíveis aos alunos. A lista inclui obras de terror “It: a coisa”, de Stephen King, sexualidade, como "A Química Entre Nós", de Larry Young e Brian Alexander, além de "Laranja Mecânica", de Anthony Burgess e "O Diário do Diabo: Os Segredos de Alfred Rosenberg, o Maior Intelectual do Nazismo", de Roger Moorhouse, um livro com viés crítico ao nazismo. A Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários divulgou nota de repúdio ao ato de censura.

Publicações - Poder 360

EXPOSIÇÃO "O GRITO!"

Foto - reprodução

Data – 24/10/2023

Cidade – Brasília

Local – Caixa Cultural de Brasília

Censor – gestor público

Caso – A exposição “O Grito!” foi suspensa pela Caixa Cultural de Brasília após críticas a uma das obras da mostra nas redes sociais. A obra “Bandeiras”, da artista Marília Scarabello, foi atacada por deputados de direita por trazer a imagem dos políticos Arthur Lira e Damares Alves, além do economista Paulo Guedes, dentro de uma lata da lixo. À coluna de Monica Bergamo, a artista afirmou que está sendo ameaçada e que a obra censurada faz parte de uma série em que ela mapeia e expõe diferentes versões da bandeira do Brasil que encontra nas ruas. A censura ocorreu uma semana depois da abertura. Em nota, a instituição da Caixa Econômica Federal argumentou que a mostra foi suspensa por apresentar cunho “político-partidário”.

SHOW DE JOHNNY HOOKER

Foto: reprodução

Data - 25/09/2023

Local - Mormaço Cultural

Cidade - Boa Vista/RR

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - O prefeito de Boa Vista (RR) cancelou o show de Johnny Hooker, que aconteceria no festival Mormaço Cultural. A censura ocorreu após pressão de grupos nas redes sociais, que resgataram um vídeo de 2018 em que o artista dizia "Jesus é travesti" ao defender o espetáculo "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu", que também havia sido censurado. Em vídeo nas redes sociais, Johnny Hooker se posicionou sobre os ataques. "Um corte de uma fala minha tirada de contexto foi espalhada por extremistas religiosos nas redes sociais. Cabe ressaltar aqui que esse assunto já foi extinto pela justiça brasileira com ganho de causa a mim. ou seja vivem de requentar polemicas atacando a comunidade LGBTQIA+. Eu e minha equipe estamos consternados com essa situação e buscando imediatamente as medidas cabíveis junto aos nossos advogados. O Brasil não pode se render AS TREVAS! O ESTADO É LAICO!"

DESMONUMENTO

Foto: André Parente/divulgação

Data - 20/07/2023

Local - Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul

Cidade - Porto Alegre/RS

Censor - gestor público

Caso - A exposição "Desmonumento", de André Parente, foi cancelada após a direção do museu condicionar a abertura da mostra à retirada de algumas obras do artista. "Os curadores foram informados, há poucas semanas da data prevista para sua abertura, que a série de moedas não poderia ser exposta. Sendo assim, fez-se imperativo consultar o artista, por entender que a supressão destas obras descaracterizava o próprio projeto", diz carta obtida pelo jornalista Juremir Machado, da Matinal Jornalismo. A série de moedas trazia os rostos de políticos como Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha e também de Carlos Brilhante Ustra. Em acordo, artista e curadores decidiram cancelar a exposição. Segundo a coluna, o pedido de retirada das moedas por parte da direção do museu foi devido à fragilidade dos itens, que poderiam ser depredados. O Observatório de Censura à Arte considera alterações e interferências nas obras e exposições como censura.

Publicações - Matinal Jornalismo

THEMÔNIAS: A ARTE DRAG NA AMAZÔNIA

Foto: Roberta Brandão/Amazônia Real

Data - 29/05/2023

Local - Universidade Federal do Pará

Cidade - Belém/PA

Censor - desconhecido

Caso - A exposição Themônias: A Arte Drag na Amazônia, organizada por alunos de Museologia da Universidade do Pará, foi encontrada vandalizada na manhã de 29 de maio. "Textos [foram] rasgados, plotagem descolada, maquiagens estragadas, itens furtados, livro de assinatura rasurado e as indumentárias emprestadas totalmente bagunçadas", informou a curadoria, em perfil nas redes sociais. A mostra é centrada nas "themônias", um movimento político-cultural LGBTQIA+ paraense. O autor do vandalismo ainda não foi identificado."A gente ser atacado dessa forma dentro da universidade pública, dentro da faculdade de artes visuais, é doloroso, porque estamos dentro de um espaço que consideramos seguro até então. Esse foi um ataque à cultura e também à arte 'themônia'", disse em vídeo uma das curadoras.

EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS

Foto: Yuri Pinheiro/divulgação

Data - 01/05/2023

Local - Universidade de Rio Verde

Cidade - Goiânia/Goiás

Censor - empresa privada

Caso - A Universidade de Rio Verde, de Goiás, retirou o livro "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios" da lista de leituras obrigatórias do vestibular. A censura ocorreu após um post de um deputado de extrema-direita atacando o livro de apresentar conteúdo pornográfico. A Universidade não informou justificativa para a retirada da obra. Em nota, a editora do livro, Companhia das Letras, repudiou a censura. "O livro explora temas como amor, traição, violência, e redenção. A escrita de Marçal Aquino é poética e evocativa, retratando com detalhes a atmosfera e a paisagem da região amazônica. A Companhia das Letras repudia qualquer tipo de censura e, diante de uma situação como essa, declara seu apoio a @marcal_aquino", diz a nota oficial.

Relato do artista - “Eu sou um autor de um livro de quase 20 anos no mercado, que está em sua 23ª edição, foi traduzido para oito idiomas, deu origem a dois curtas-metragens, ganhou prêmios, e vem um cara que não tem nenhum preparo, não deve nem ter lido o livro, e a universidade aceita e dá abrigo a esse tipo de obscenidade, isso sim me parece pornográfico” (Marçal Aquino em entrevista ao G1).

M.A.N.I.F.E.S.T.A.

Data - 25/02/2023

Local - Fundação Clóvis Salgado

Cidade - Belo Horizonte/MG

Censor - Poder Executivo (governo do Estado)

Caso - O espetáculo m.a.n.i.f.e.s.t.a, da Cia de Dança Palácio das Artes, ligada à Fundação Clóvis Salgado, órgão estadual de Minas Gerais, foi cancelado por ordem do governo do estado. O espetáculo, que estreou em novembro de 2022, deveria ser reapresentado no dia 15 março, mas o projeto foi encerrado junto com a demissão do diretor da Companhia, Cristiano Reis. A obra é uma criação coletiva dos bailarinos e é inspirada no “Manifesto Pau-Brasil”, de Oswald de Andrade. Em entrevista ao jornal O Tempo, a bailarina Marise Dinis criticou o cancelamento e contou que estava com o contrato assinado para a apresentação do dia 15. “Fica a minha pergunta: por que algo que levantou tanto interesse, que teve uma repercussão tão incrível, foi cancelado? Para mim, é uma afronta à Cia. de Dança Palácio das Artes, que lutou e luta muito para sobreviver e se manter”. Em nota, a Fundação Clóvis Salgado afirmou que "a qualquer momento, havendo disponibilidade de novos recursos orçamentários e financeiros, poderá ser remontado".

Publicações -
O Tempo

HOMENAGEM A MARIA CONGA

Foto: reprodução

Data - 08/02/2023

Local - Píer de Magé

Cidade - Magé/RJ

Censor - desconhecido

Caso - Uma escultura em homenagem à princesa africana Maria Conga foi vandalizado com símbolos nazistas entre os dias 7 e 8 de fevereiro. A obra, da artista local Cristina Febrone, foi encontrada com riscos, incluindo uma suástica, e partes de sua estrutura foram arrancadas. Filha de um rei africano, Maria Conga foi escravizada e viveu na Bahia no século 19. Aos 35 anos, fundou o quilombo Maria Conga ao ganhar sua alforria. Sua história também é significativa para as religiões de matriz africana. Em nota, a prefeitura afirmou que "repudia com veemência o ato de vandalismo" e que irá acionar as câmeras de segurança para ajudar na investigação.

Publicações - Extra

OBRAS E PATRIMÔNIO CULTURAL NA PRAÇA DOS TRÊS PODERES

Foto: redes sociais/reprodução

Data - 08/01/2023

Local - Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal e Congresso Nacional

Cidade - Brasília

Censor - desconhecido

Caso - Diversas obras de arte foram danificadas pelos golpistas que atentaram contra a democracia na tarde de domingo (8/1) em Brasília Uma das obras foi o quadro "As Mulatas", de Di Cavalcanti, avaliado em R$ 8 milhões. O quadro pertence ao acervo do Palácio do Planalto e foi perfurado em cinco pontos. Patrimônio Cultural tombado pela Unesco, o conjunto de prédios que inclui o Planalto, o Congresso e a sede do STF também sofreram danos. Atualmente, ainda está sendo feito o inventário para avaliar os danos. Entre as obras danificadas já identificadas, estão a escultura em bronze “O Flautista”, de Bruno Giorgi, uma escultura em madeira do artista Frans Krajcberg, o o relógio feito no século XVII por Balthazar Martinot, relojoeiro de Luís XIV, a obra “Bandeira do Brasil” (1995), de Jorge Eduardo e a a escultura “Maria, Maria” (1980), de Sônia Ebling. Leia mais na reportagem do Nonada Jornalismo.

MINH'ALMA CATIVA

Data - 23/11/2022

Local - Centro Cultural da Diversidade

Cidade - São Paulo/SP

Censor - desconhecido

Caso - Obras de cinco artistas LGBTQIA+ foram vandalizadas no Centro Cultural da Diversidade, antes da abertura da exposição Minh'alma Cativa. Pessoas ainda não identificadas cortaram e riscaram os quadros de Antonio Kuschnir, Cauã Bertoldo, Hanz Ronald, Leonardo Maciel e Vitor Narumi. Os artistas decidiram expor as obras mesmo vandalizadas, para registrar " a violência do ato iconoclasta", segundo a curadora, Ana Carla Soler. "Nesse encontro de trabalhos, as obras falam sobre o afeto e as conexões geradas e mantidas entre pessoas, almas. Abordam o carinho, o toque e os desejos, muitas vezes, escondidos ou invisibilizados na sociedade contemporânea, marcada pela homofobia e transfobia", explicou Ana Carla nas redes sociais. O artista Hanz Ronald também se manifestou sobre o caso: "Durante esses 4 anos, eu incansavelmente vejo exposições de artistas LGBTQIAP+ serem cada vez mais boicotadas por diversos motivos e me frustra pensar que cada vez mais não temos espaços (físicos ou imaginários)". A Polícia Civil investiga o caso.

RASURAS TRANSVERSAIS

Foto: Louise Soares/Nonada Jornalismo

Data - 18/11/2022

Local - campus central da Ufrgs

Cidade - Porto Alegre/RS

Censor - gestor público

Caso - A Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) cancelou uma apresentação de carnaval que aconteceria no pátio da universidade, durante o Festival Unimúsica - Rasuras Transversais. As escolas Bambas da Orgia e Imperadores do Samba se apresentariam ao ar livre nos dias 19 e 20 de novembro, mas um despacho determinou o cancelamento das apresentações. A alegação foi que a instituição “não possui condições, nem efetivo para proporcionar a segurança ao patrimônio público e, como já referido, em especial as pessoas que aqui estarão presentes, em especial (sic) no tocante ao não atendimento às normativas relacionadas às questões de prevenção de incêndio". As demais atividades do festival foram mantidas. No mesmo local, ocorrem periodicamente atividades relacionadas à formatura dos alunos. Em nota, a equipe de servidores que organizou o festival afirmou que "lamenta a falta de celeridade da administração universitária na deliberação sobre o pedido de utilização do pátio do campus central durante o festival, em processo aberto com mais de um mês de antecedência" e lamenta os transtornos causados aos trabalhadores da cultura envolvidos e ao público.

GAROTOS PODRES

Data - 15/11/2022

Local - centro da cidade

Cidade - Pederneiras/SP

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - A banda de punk rock Garotos Podres foi censurada pela prefeitura de Pederneiras, em São Paulo, após um bolsonarista causar confusão na plateia e agredir espectadores do show. Conforme relato da banda nas redes sociais, o homem começou as agressões após os integrantes do grupo criticarem Jair Bolsonaro no palco. O extremista tentou agredir o vocalista, mas não conseguiu. "Revoltado ele iniciou uma confusão no "bate cabeça" e logo em seguida deu um soco no rosto de uma mulher, que desmaiou na hora", diz a banda em nota oficial. Em seguida, o secretário de cultura da cidade tentou coagi-los a não se manifestarem politicamente no show, mas não foi atendido. Pouco tempo depois, a luz do local foi cortada e eles foram obrigados a encerrar o show. A banda também afirmou que a Polícia Militar estava presente no local, mas não agiu para impedir o comportamento agressivo do extremista.

Relato do artista - "Quem conhece a banda sabe da nossa índole e quem esteve no local viu que em nenhum momento nos envolvemos na confusão. Enquanto estivemos no palco, apenas nos posicionamos contra o fascismo e contra a barbárie. Como sempre fazemos. Fomos impedidos de seguir com nosso show, única e exclusivamente, porque parte da organização (Secretário de Cultura/Defesa Civil) nos obrigou."

GUSTAVO TELLES & OS ESCOLHIDOS

Foto: divulgação

Data - 28/10/2022

Local - Mercado Público de Vacaria

Cidade - Vacaria/RS

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - A banda Gustavo Telles & Os Escolhidos foi censurada pela prefeitura do município de Vacaria, interior do Rio Grande do Sul, no dia 28 de outubro. O grupo havia sido contratado por uma produtora cultural para participar da Semana Cultural de 172 anos de Vacaria, mas teve que sair do palco após a segunda música. O motivo: um dos integrantes da banda carregava um adesivo de Lula na camisa. Nas redes sociais, o músico Gustavo Telles disse que eles tentaram negociar a apresentação, afirmando que removeriam o adesivo, mas a prefeitura não voltou atrás. "A polícia disse para a produtora que o prefeito havia cancelado o evento. Frustração total minha, da banda, da produtora e do público! Em meu repertório, tenho músicas de cunho político. Mas nenhuma dessas estava no repertório do show".

ALICE, ALÉM DA TOCA DO COELHO

Foto: divulgação

Data - 07/10/2022

Local - Feira do Livro de Campo Bom

Cidade - Campo Bom/RS

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - O elenco do espetáculo "Alice, Além da Toca do Coelho" foi censurado pela prefeitura de Campo Bom, cidade do interior do Rio Grande do Sul. O caso ocorreu após o grupo sofrer perseguição de um vereador da extrema-direita de outro município gaúcho, Estância Velha, onde o espetáculo será apresentado dia 8 de outubro. O político gravou vídeos no instagram atacando a peça por supostamente promover "ideologia de gênero" pelo fato de a peça contar com atores homens no elenco. Espetáculo premiado, a peça "busca ressignificar o pensar filosófico na infância. Questiona temas e comportamentos humanos atuais, de modo a fazer as crianças refletirem, de forma lúdica, sobre problemáticas contemporâneas como o poder, o egoísmo, a educação, os relacionamentos, a amizade, entre outras questões filosóficas como existencialismo, cultura, indivíduo e sociedade." Em nota nas redes sociais, a prefeitura de Estância Velha anunciou que vai manter a apresentação. "A peça não tratou sobre ideologia de gênero e não usou linguagem neutra. Não incentiva e nem trata sobre sexualização de crianças". Já a prefeitura de Campo Bom foi procurada pela reportagem, mas ainda não se manifestou sobre o caso. O espetáculo ainda consta como parte da programação da feira, mas o grupo informou a equipe do Observatório que a prefeitura informou o cancelamento a eles sem apresentar justificativa.

EXPOSIÇÃO ARA'PUKA

Foto: Caio Clímaco/reprodução

Data - 05/10/2022

Local - Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos

Cidade - Rio de Janeiro/RJ

Censor - Igreja

Caso - Na semana da montagem, a exposição Ara'Puka, que ocorreria na Igreja, recebeu a negativa do Arcebispo, apesar do testemunho do padre a favor dos artistas. A exposição traria uma cartografia decolonial do Rio de janeiro, a parti de um "olhar contra-hegemônico da história do Brasil". “Cabe ressaltar que a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos é um local de grande importância histórica, sendo o primeiro templo visitado por Dom João VI em sua chegada ao Brasil em 1808. A irmandade dona da Igreja foi responsável por financiar o pagamento de cartas de alforria para milhares de negros escravizados pela Coroa Portuguesa”, contextualiza o fotógrafo e artista Caio Clímaco em entrevista ao Observatório. A justificativa da autoridade religiosa para a censura foi que a mostra se tratava de uma atividade de caráter comunista e que isso não seria permitido no local.

LAST WEEK TONIGHT WITH JOHN OLIVER

Data - 04/10/2022

Local - plataforma de streaming

Cidade - São Paulo/SP

Censor - empresa privada

Caso - Um episódio do programa de variedades do apresentador americano John Oliver foi censurado no Brasil pela plataforma de streaming HBO Max. O programa traz cerca de 20 minutos de conteúdo sarcástico sobre o governo Bolsonaro. Segundo a Warner Bros, grupo que detém a plataforma, afirmou em nota que optou por atrasar a exibição, "uma vez que não há episódios atuais e similares sobre os demais candidatos. Desta forma, mantemos isonomia e evitamos parcialidade até o final do período eleitoral".

Publicações - Ligado em série

DESLOCAMENTO

Foto: divulgação

Data - 20/09/2022

Local - Assembleia Legislativa de Minas Gerais

Cidade - Belo Horizonte/MG

Censor - Poder Legislativo

Caso - A exposição Deslocamento, do artista Carlos Barroso, foi encerrada antes do tempo previsto na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A censura partiu da presidência do órgão, após pressão de parlamentares de extrema direita nas redes sociais. Segundo a Folha, o presidente alegou risco de invasão do prédio para justificar a censura. Um dos deputados chegou a dizer em vídeo que o artista é o anticristo". "Tudo começou com vídeos de fundamentalistas de direita, com apoio de um deputado-pastor. É a política de ódio em curso no país, por parte extremistas, contra a arte, a Cultura, aos processos de Educação. Considero um atentado à liberdade de expressão, à cultura e à arte", declarou o artista no seu perfil no instagram.

Publicações - Folha

TETO, TRAMPO E TRATAMENTO

Foto: divulgação

Data - 02/09/2022

Local - Cracolândia

Cidade - São Paulo/SP

Censor - Polícia Militar

Caso - A Polícia Militar realizou uma operação violenta na tarde desta quinta-feira (1), na Cracolândia, em São Paulo. Várias pessoas foram detidas, incluindo dois artistas que realizavam um espetáculo de palhaçaria no local. Os artistas tiveram sua peça censurada e sofreram violência por parte da polícia, conforme relata em áudio a palhaça Andréa Macera. “A gente estava trabalhando na cracolândia e teve uma ação da polícia mega violenta, a mais violenta de todas que já vimos, com muito tiro e bomba. Chegou um carro gigante e uns policiais atirando. Não tinha como sair correndo”, diz. “Um policial veio para cima armado e falou pra gente sentar no chão. Quando todos sentaram, eles pegaram os palhaços, eu e o [meu colega] Flavio [Falcone]”, relata a artista Andréa conta que eles decidiram pegar os integrantes do projeto que acompanhavam a peça – em torno de 17 pessoas – para não deixá-los sozinhos com a polícia. Todos foram levados à 77ª Delegacia de Polícia de SP e estão com assistência jurídica.

Publicações - Nonada

EXPOSIÇÃO ACONTECEU EM 22

Foto: reprodução

Data - 06/08/2022

Local - Pinacoteca de Botucatu

Cidade - Botucatu/SP

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - A prefeitura de Botucatu, interior de São Paulo, mandou retirar uma obra feita por uma aluna do ensino Médio que integrava uma exposição coletiva da escola na Pinacoteca da cidade. A obra censurada mostra a imagem de um demônio, elemento presente no mangá "Devilman: Crybaby”. A prefeitura alegou que a obra é "uma releitura de uma série com classificação indicativa para maiores de 18 anos" e por isso decidiu remover o quadro.

MULHER ARTISTA, RESISTA

Foto: acervo pessoal

Data - 20/07/2022

Local - Museu do Café

Cidade - Santos/SP

Censor - gestor público

Caso - Uma instalação sobre a violência contra a mulher, da artista Yanaina Mella, foi retirada da fachada do Museu do café, em Santos, no dia 20 de julho. A artista havia sido convidada pela organização da Conferência da Rede de Cidades Criativas, que estava sendo realizada pela Unesco na cidade. Nas redes sociais, Yanaina contou que já na terça-feira (19), enquanto ela estava montando a obra, foi abordada por seguranças que afirmaram que ela não tinha autorização para a instalação, que consistia em lambe-lambes com palavras como "estupro" e "violentada", além de manequins com "sangue falso", posicionados na frente da fachada. "Era um trabalho, com prazo,
com remuneração, com local definido e oferecido pela organização do evento, um trabalho com qualquer outro", disse a artista. Na quarta-feira pela manhã, dia do evento, a obra havia sido arrancada e guardada por funcionários do Museu, que disseram à artista que a obra era muito "chocante". Ao portal G1, o museu do Café afirmou que retirou a obra porque o prédio é tombado. A prefeitura de Santos disse que não foi responsável pela retirada da instalação e que quer definir um novo local com a artista. Yanaina, que é arquiteta, nega que o assunto do tombamento tenha sido citado nas abordagens e disse que tomou todos os cuidados combinados com a organização.

Relato da artista - "O que houve foi censura, em nenhuma das abordagens o assunto tombamento foi citado, e sim, reitero a temática. Por todas as vezes! Minha intenção é somente que a verdade fique aparente, pois não vou aceitar depois de tudo que passei, ainda seja responsabilizada pela retirada da minha intervenção de um lugar que repito: foi apontado e cedido pela organização do evento. O museu se pronunciou declarando nunca ter sido comunicado sobre a intervenção a respeito da autorização do evento pela organização do mesmo que me apontou o local, sendo assim sabemos que o erro foi tbm (sic) da gestão do evento, essa a qual permanece em silêncio, deixando recair sobre mim, artista contratada, a responsabilidade por ter feito uma intervenção sem autorização no local, por sorte conto com todos as provas que apontam que o local foi apontado pela organização e eu sequer tive oportunidade de escolha, e já estamos tomando as devidas ações jurídicas para resolução e responsabilização dos verdadeiros culpados por todo esse absurdo."

Publicações - G1, Brasil de Fato

MONUMENTO À LITERATURA

Data - 20/07/2022

Local - Praça da Alfândega

Cidade - Porto Alegre/RS

Censor - desconhecido

Caso - Uma escultura chamada Monumento à Literatura amanheceu vandalizada em Porto Alegre. A obra, de autoria de Xico Stockinger, retrata os escritores Mario Quintana e Carlos Drummond de Andrade conversando na praça. Uma tinta amarela foi jogada nas esculturas por um autor desconhecido. A obra já havia sido vandalizada antes, com o roubo de algumas peças, mas esta foi a primeira vez que nada foi levado durante o vandalismo. A escultura já passou por restauro.

ESTÁTUA DE CHICO MENDES

Foto: Angélica Mendes/reprodução

Data - 01/07/2022

Local - Praça Povos da Floresta

Cidade - Rio Branco/AC

Censor - desconhecido

Caso - Uma escultura em homenagem ao ambientalista Chico Mendes amanheceu vandalizada na praça Povos da Floresta, em Rio Branco, no Acre. A neta do líder, Angélica Mendes, denunciou a censura nas redes sociais. “Nossa cidade e estado estão se acabando. Mas, nunca apagarão nossa história”, disse, mostrando fotos da estátua derrubada no chão na praça. A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar o caso. Segundo o jornal A Gazeta do Acre, em 2018 a estátua do filho do ambientalista, Sandino Mendes, foi furtada e nunca mais encontrada.

Publicação - Gazeta do Acre

SHOW DE BRUNO CAMURATI

Foto: reprodução

Data - 30/06/2022

Local - Festival Halleluya

Cidade - Fortaleza/CE

Censor - empresa privada

Caso - O show do cantor gospel Bruno Camurati foi cancelado sem explicações pelo festival Halleluya dias depois que o músico se assumiu homossexual nas redes sociais. A apresentação estava marcada para o dia 23 de julho e era um evento certo na agenda de Bruno, que se apresenta no mesmo evento há pelo menos 10 anos. Ao Diário do Nordeste, Bruno contou que outros shows dele em outras cidades também e estão sendo cancelados desde que fez o post, sem justificativa apresentada para os cortes. O festival ainda não se pronunciou sobre o caso.

Relato do artista - "sou cantor, compositor, católico, designer, ator, carioca, gay, lutando ao lado das minorias e perseguidos, a favor da democracia e do Amor. Não pretendo ser herói ou exemplo de nada, só ser eu msm. Se vier, venha na paz". (via twitter)

ABECEDÁRIO DA DIVERSIDADE

Foto: divulgação

Data - 10/06/2022

Local - Plaza Shopping Niterói

Cidade - Niterói/RJ

Censor - empresa privada

Caso - A exposição "Abecedário da Diversidade", do artista Diego Moura, foi censurada um dia após ser inaugurada pelo shopping Plaza, em Niterói. Com temática LGBTQIA+, a exposição havia estreado no corredor do shopping, com ampla visibilidade, mas sofreu ataques de vereadores de direita logo no primeiro dia. Após a pressão nas redes sociais pela retirada das obras, o shopping deslocou a mostra para uma sala comercial de menos acesso, com o argumento de que a localização original estava impactando o fluxo de pessoas. Por considerar que o shopping descumpriu o acordo com o artista ao alterar o local combinado, ainda que não tenha sido cancelada, a equipe do Observatório considera que o caso foi censura. Após o deslocamento, os parlamentares comemoraram a censura nas redes.

Relato do artista - "Após receber a GARANTIA DO SHOPPING de que eu seria protegido de qualquer ataque, eles simplesmente desapareceram com a exposição! Deixando CLARO de que lado eles estão." (Diego Moura, via instagram)

RETOMADAS

Foto de André Vilaron/divulgação

Data - 11/05/2022

Local - Museu de Arte de São Paulo (MASP)

Cidade - São Paulo/SP

Censor - gestor público

Caso - Alegando questões burocráticas, o MASP impediu que uma parte da exposição "Histórias Brasileiras", relativa ao núcleo de fotografias "Retomadas", incluísse fotos dos artistas João Zinclar, André Vilaron e Edgar Kanayk que retratam o Movimento Sem Terra (MST) na mostra, que ocorreria em julho. Segundo o MASP, os trâmites administrativos para incluir as fotos não foram cumpridos a tempo de montar a exposição. No entanto, as curadoras do núcleo, Sandra Benites e Clarissa Diniz, afirmam que não foram avisadas de que havia um prazo para o processo. Sem o direito de publicar o trabalho na totalidade e complexidade que haviam planejado, as curadoras decidiram cancelar o núcleo. "Nos sentimos desrespeitadas, injustiçadas e instadas, em consequência de tal decisão, a trair a confiança deste que não é só o maior movimento social do Brasil, como também é a coluna vertebral do 'Retomadas'", afirmam em carta aberta enviada aos artistas. Em nota, o MST também se pronunciou: "Destacamos que ao inviabilizar a inserção da totalidade desses documentos, o que de fato se efetiva é a exclusão de um dos maiores movimentos sociais da história contemporânea brasileira e latino-americana." O Museu voltou atrás da decisão após algumas semanas.

Publicações - Folha de S. Paulo

SEM MEDO DO FUTURO

Foto: divulgação

Data - 03/05/2022

Local - Museu de Arte de São Paulo (MASP)

Cidade - São Paulo/SP

Censor - gestor público

Caso - O MASP desistiu de sediar o lançamento do livro "Sem Medo do Futuro", de Guilherme Boulos, publicado pela editora Contracorrente. Segundo a sinopse, no livro, "com sua retórica inconfundível – direta e acessível –, Boulos entrega nesta obra (composto por cinco ensaios) uma análise aguda e lúcida do Brasil de hoje, que sofre o desmonte de suas recentes conquistas sociais". O cancelamento ocorreu mesmo após a editora já ter assinado minuta de contrato e ter iniciado a divulgação nas redes sociais. O MASP afirmou em nota que o cancelamento ocorreu devido ao evento “não estar de acordo com o artigo 2, parágrafo terceiro do estatuto social” que proíbe “realização de quaisquer manifestações de caráter político e/ou religioso”. A equipe deste Observatório entende que o conceito de "política" é amplo e inerente à arte em si. De acordo com a professora da USP Maria Castilho Costa, no artigo "Isto não é censura", que embasa a metodologia do Observatório, "a censura, onde quer que se manifeste, é sempre política, tem a ver com o exercício do poder, com privilégios, com dominação".

Publicações - Metrópoles

FESTIVAL LOLLAPALOOZA

Foto: reprodução/twitter

Data - 27/03/2022

Local - Tribunal Superior Eleitoral (TST)

Cidade - Brasília

Censor - Poder Judiciário

Caso - O ministro do TSE Raul Araújo acatou parcialmente pedido do PL, partido de Jair Bolsonaro, para proibir manifestações políticas de artistas dentro do festival de música Lollapalooza. A decisão ocorreu após a cantora Pablo Vittar gritar "Fora Bolsonaro" no show de sábado e segurar uma bandeira de um fã que trazia o rosto do pré-candidato à presidência Lula. Outros artistas, como a banda The Strokes e Emicida, também se manifestaram contra Bolsonaro. Com a decisão, que classificou a atitude de Pablo como "propaganda eleitoral", artistas estão proibidos de se manifestarem politicamente no festival. Caso alguém descumpra a ordem, o Lollapalooza deverá pagar multa de R$ 50 mil. O PL também havia pedido que o TSE autorizasse a polícia a interromper os shows caso ocorressem novas manifestações, mas a Justiça não acatou a intervenção policial.

EXPOSIÇÃO PRÊMIO CULTURAL PINDORAMA

Foto: Mariana Filgueiras, uma das vencedoras do Prêmio

Data - 23/03/2022

Local - Casa de Cultura Pedro Wayne

Cidade - Bagé/RS

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - A Universidade Federal do Pampa (Unipampa) publicou na quarta-feira (23) uma nota denunciando censura imposta à exposição Prêmio Cultural Pindorama, composta por fotografias e poemas que versavam sobre a pandemia de covid-19, com críticas ao governo Bolsonaro. A exposição ficou apenas 5 dias em cartaz e deveria ser encerrada no dia 31 de março, mas a prefeitura decidiu interromper antes a mostram que trazia obras selecionadas pela universidade em conjunto com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A prefeitura foi procurada pela equipe do Observatório mas ainda não se pronunciou sobre o assunto. A Unipampa relatou que a decisão do cancelamento foi unilateral e que foi informada que a mostra foi classificada pela prefeitura como política.

COMO SE TORNAR O PIOR ALUNO DA ESCOLA

Foto: reprodução

Data - 15/03/2022

Local - Ministério da Justiça

Cidade - Brasília

Censor - Poder Executivo (Governo Federal)

Caso - No dia 15 de março de 2022, o Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou que as plataformas de streaming deixem de reproduzir o filme do humorista Danilo Gentili, "Como se tornar o pior aluno da escola". A censura ocorreu depois que integrantes do governo Bolsonaro, incluindo o secretário de Cultura, Mário Frias, viralizaram um trecho fora de contexto, acusando a obra de apologia à pedofilia. No trecho, um personagem interpretado por Fábio Porchat, defensor da "moral e bons costumes", seduz dois menores de idade. Em entrevistas, Gentili e Porchat explicaram que a cena era uma crítica e que ela "foi escrita para ser escrota". O filme está em exibição na Netflix, que pode pagar multa de R$ 50 mil por dia caso descumpra a medida. A censura ocorreu mesmo com a classificação indicativa de 14 anos do filme, que seguiu as normas do próprio Ministério da Justiça para classificar o filme.

Publicações - Metrópoles

TRÓPICOS — A VÊNUS DO FIM DO MUNDO

Foto: reprodução/redes sociais

Data - 08/03/2022

Local - Estação Livre de Nova Friburgo

Cidade - Nova Friburgo/RJ

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - A artista visual Elis Pinto foi censurada pela prefeitura de Nova Friburgo (RJ) em evento realizado no Dia Internacional da Mulher, 8 de março de 2022. Na ocasião, funcionários pediram que ela retirasse do local aobra "A vênus do Fim do mundo", em referência à estátua clássica Vênus de Milo, que integrava a exposição "Vozes Femininas". O prefeito, que é pastor evangélico, teria se incomodado com os corpos nus da obra. Nas redes sociais, Elis relatou a censura: "Depois de tanto trabalho (...) recebo a notícia de que o prefeito só viria ao evento se eu retirar meus trabalhos, que segundo um informante dele estava muito ousada. Uma exposição previamente aprovada pela secretaria de Cultura. Ele nunca ouviu falar das estátuas gregas em história da arte?"

Publicações - O Globo

ENCONTRO DE GIGANTES

Data - 19/02/2022

Local - Imperatriz Dona Leopoldina

Cidade - Porto Alegre/RS

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - A quadra da escola de samba Imperatriz Dona Leopoldina, de Porto Alegre, foi interditada na noite de 19 de fevereiro, no momento em que ocorria o "Encontro de Gigantes", um evento com a presença das principais agremiações carnavalescas da cidade. O evento já havia sido autorizado anteriormente em reunião com prefeitura, mas integrantes da guarda municipal e do corpo de bombeiros interromperam o encontro alegando falta de alvará e de Plano de Prevenção contra Incêndio. "Pediam o PPCI, a resposta era que o processo estava em análise e todas as etapas respeitadas pela Escola, conforme consta no sistema dos bombeiros", relatou a escola em nota. Os bombeiros também pediram a presença de mais brigadistas e um sistema de sirenes contra incêndio. Outras instituições da cidade, como o Museu de Arte do Rio Grande do Sul, permanecerem anos em atividade sem o PPCI. "Presenciamos e fomos vítimas de mais um acontecimento de completa discriminação com a Cultura popular, contra o carnaval, de preconceito racial e social contra a Comunidade", concluiu a escola de samba. Em nota de solidariedade, a União das Escolas de Samba de Porto Alegre questionou a seletividade da fiscalização: "Por que outros setores, bairros ou segmentos não são autuados?"

PRAIA

Foto: Áurea Carolina/reprodução

Data - 05/02/2022

Local - centro da cidade

Cidade - Juiz de Fora/MG

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - A performance "Praia" foi cancelada pela prefeitura de Juiz de Fora após grupos acusarem os artistas participantes de "atentado ao pudor". Contemplada por um edital local, a performance consistia em simular uma área de praia em pleno centro da cidade, com artistas e público vestidos com traje de banho. A primeira edição da performance chegou a acontecer, mas sofreu muitas críticas e ameaças de grupos nas redes sociais, o que levou a prefeitura a cancelar a segunda edição, que ocorreria no próximo final de semana, com a justificativa de não conseguir garantir a segurança dos artistas. Em nota, a prefeitura lamentou o cancelamento.

Publicações - Portal G1

OLHOS D'ÁGUA

Foto: Mônica Imbuzeiro

Data - 19/11/2021

Local - Colégio Vitória-Régia

Cidade - Salvador/BA

Censor - empresa privada

Caso - Uma professora do Ensino Médio do Colégio Vitória-Régia, em Salvador, foi afastada após indicar como leitura de aula o livro "Olhos D'água", da escritora Conceição Evaristo. O caso veio a público após a professora denunciar a censura nas redes sociais e indicar o racismo do caso. Segundo nota divulgada pela escola no dia 19, oito famílias consideraram que o livro tem linguagem imprópria por incluir palavrões e "narrativas reais de violência". Alguns alunos também pressionaram pelo pedido de censura, com a justificativa de que a obra, que é leitura obrigatória de vários vestibulares, não aborda questões que dizem respeito a eles. A professora foi afastada e não leciona mais para a turma.

Publicações - Universa

PULI-PULÁ

Foto: Sesc Montenegro

Data - 03/11/2021

Local - Colégio Farroupilha

Cidade - Porto Alegre/RS

Censor - empresa privada

Caso - O Colégio Farroupilha, escola privada de Porto Alegre/RS, cancelou as apresentações de um espetáculo infanto-juvenil do Grupo Cerco que utilizava linguagem neutra em seu texto. A censura ocorreu após o pai de um aluno enviar uma mensagem acusando a escola de "introduzir maliciosamente uma peça de teatro que divulga em suas redes sociais que é 'precursor[a] em falar de gênero neutro em escolas' e começa com 'menines e menines, sejam todes bem-vindes'". Em resposta, a escola enviou um comunicado à turma, informando que "utiliza como referência a norma-padrão da Língua Portuguesa e não compactua com iniciativas que estejam em desacordo com a gramática normativa" e concluiu informando que os espetáculos previstos foram cancelados. O espetáculo já havia sido apresentado em 2018 na mesma escola e utiliza brincadeiras populares como pular corda como linguagem cênica. As informações foram obtidas pela nossa equipe através de uma fonte anônima.

Relato do artista - "A nossa mensagem é uma só: brincar é para todes. Recentemente, a linguagem neutra utilizada na nossa peça foi questionada por um grupo de pessoas, o que levou um colégio a cancelar de maneira conivente as apresentações que estavam contratadas. Sentimos muito pelas crianças que não puderam brincar por causa desta decisão. Para nós, enquanto artistas, cidadãos e cidadãs, é grave que uma obra artística sofra esse tipo de ataque. Desde 2015, esta é a primeira vez que o espetáculo recebe esse tipo de tratamento. Nesses seis anos, a nossa corda já girou muito. A peça foi apresentada centenas de vezes em escolas, praças, parques e ginásios, para milhares de crianças, pais, mães, professores, professoras e todo tipo de público. " (via redes sociais)

CONGADO DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO E ESCRAVA ANASTÁCIA

Foto: Ckmartinelli, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

Data - 31/10/2021

Local - Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos

Cidade - Tiradentes/MG

Censor - Igreja

Caso - O grupo do Congado de Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia foi impedido de realizar suas atividades pelo padre da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na cidade de Tiradentes/MG. O grupo carregava estandartes com imagens da escrava Anastácia, incluindo a obra "Castigo de Escravos", do pintor Jacques Etienne Arago, adotada pelos fiéis como representação da homenageada. Conforme relatou ao Alma Preta o líder do congado, Mestre Claudinei Matias, inicialmente o padre pediu que os turistas que acompanhavam o grupo se retirassem da Igreja e, em seguida, determinou que o congado continuasse do lado de fora. O congado é uma manifestação da cultura popular que consiste em um festejo católico afro-brasileiro e ocorre em igrejas católicas de diversos cantos do país. No entanto, a homenagem a Anastácia originou a censura por parte da Igreja. Segundo Mestre Claudinei, o padre acusa o grupo de santificar a imagem de Anastácia, o que, segundo ele, não é verdade. Esta não foi a primeira vez que o pároco censurou o congado na igreja. Em 2020, o grupo foi impedido de realizar o festejo mesmo antes do início das manifestações. Em janeiro de 2021, foi feito um acordo com a Diocese de São João del-Rei para a realização da festa.

Relato do artista - "Ele [padre] rezou a missa pela metade e mandou os turistas que estavam lá para nos acompanhar saírem da igreja, deixando apenas o nosso grupo reduzido de quatro pessoas lá dentro, e fechou a porta. Depois ele falou que era pra gente tocar lá fora. Em nenhum momento ele falou do congado ou citou que Nossa Senhora é protetora dos pretos” (Mestre Claudinei Matias, em entrevista ao Alma Preta)

Publicações - Alma Preta, Estado de Minas, Uol

LINGUAGEM NEUTRA

Foto: Florencia Salto

Data - 28/10/2021

Local - Secretaria Especial de Cultura

Cidade - Brasília

Censor - Poder Executivo

Caso - O governo Bolsonaro publicou, no dia 28 de outubro, uma portaria que proíbe o uso de linguagem neutra (utilizada por pessoas não-binárias) em projetos aprovados pela Lei Rouanet. Com isso, obras de arte ou eventos culturais que façam uso da linguagem neutra estão proibidas de conseguir financiamento via Lei de Incentivo Nacional. Igualmente, obras que já tenham sido aprovadas pela lei não poderão fazer uso da linguagem censurada.De acordo com o artigo "Isto não é Censura", da professora Cristina Costa, no qual se baseia este observatório, "a censura atua de forma a inibir certos conteúdos, sua menção ou defesa, sua discussão, buscando apagar interpretações da realidade não oportunas a certos grupos. Tende também a promover a autocensura. Isso significa que a principal motivação do ato censório e que o caracteriza é seu cunho ideológico". Pelo twitter, o secretário de Incentivo e Fomento à Cultura, André Porciúncula, que assinou a portaria, disse que a linguagem neutra é uma "objeto artificial" de cunho ideológico e não deve ser entendido como expressão cultural de um povo. Especialistas em Linguística ouvidos pela nossa equipe, no entanto, afirmam que a linguagem neutra é uma variação natural da Língua Portuguesa.

MOSTRA AUTORIAS

Foto: Emanuele Quadro/divulgação

Data - 23/10/2021

Local - Viaduto Otário Rocha

Cidade - Porto Alegre/RS

Censor - desconhecido

Caso - Um retrato do escritor Luís Fernando Verissimo foi vandalizado duas vezes seguidas em uma galeria a céu aberto em Porto Alegre. O autor da obra, Gustavo Burkhart, conta que na primeira vez ele e a curadora curadora Graça Craidy preferiram não denunciar a censura e apenas levar para o restauro. O retrato do escritor foi o único a sofrer ataques entre 26 obras que retratavam outros autores locais. Ao G1, Burkhart afirmou que acredita que o caso tenha motivação política. "Parece algo neste sentido, que tem uma implicação política, uma coisa ideológica. A Graça até disse que, mesmo que fique em fiapos, a arte terá cumprido a missão. A arte serve para incomodar certos padrões de ignorância, de quem vai contra a arte, a cultura, o bom senso", disse.

Publicações - G1 RS

NOSSA SENHORA DO MATRIARCADO

Data - 18/10/2021

Local - Escola Santos Dumont

Cidade - São Paulo/SP

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - Um grafite em homenagem a "Nossa Senhora do Matriarcado", de autoria da artista Mãe Correria, foi removido dos muros de uma escola na zona oeste de São Paulo. A obra foi apagada no dia 12 de outubro pela prefeitura após críticas de um vereador do MDB, que acusou a artista de desrespeito à religião. Em nota nas redes sociais, a artista afirmou que a obra não faz referência a nenhuma imagem ou símbolo religioso. Ao G1, a prefeitura afirmou que "a imagem foi removida e reafirma o seu respeito a todas as religiões”. A obra estava no muro da escola desde 2019.

Relato da artista - "A imagem não retrata nenhuma santa ou entidade religiosa e sim a Nossa Senhora do Matriarcado. Esse graffiti, de 2019, foi pintado no muro da escola, uma expressão artística da Padroeira das Mães Correria, aquela que sempre olha por nóis!!! Então, cuidado com a interpretação!!!! Soltaremos em breve uma carta aberta de manifestação pública contra a perseguição e criminalização da arte urbana!!!"

Publicações - Periferia em Movimento

ESCADÃO MARIELLE FRANCO

Data - 30/07/2021

Local - Escadão Marielle Franco

Cidade - São Paulo/SP

Censor - Desconhecido

Caso - Um painel com o rosto da vereadora Marielle Franco amanheceu vandalizado no bairro Pinheiros, em São Paulo. A obra de arte, composta por um lambe-lambe gigante de autoria desconhecida, foi pintada de vermelho, inclusive com um objeto fálico desenho em cima do rosto da homenageada, junto à frase "Viva Borba Gato". A denúncia de vandalismo foi feita nas redes sociais por uma vereadora do PSol, partido de Marielle. O caso foi incluído no Observatório devido ao critério de modificação daobra original.

EXPOSIÇÃO DEMOCRACIA EM DISPUTA

Data - 22/07/2021

Local - Centro Cultural Bernardo Mascarenhas

Cidade - Juiz de Fora/MG

Censor - Poder Judiciário

Caso - A Justiça de Minas Gerais mandou retirar da fachada do Centro Cultural Bernardo Mascarenhas uma série de painéis que integram a exposição Democracia em Disputa. Os painéis trazem "imagens que narram mais de meio século de episódios cruciais para a construção de nossas instituições políticas", segundo o Instituto responsável pela mostra. Em caráter liminar, a decisão de censura partiu de um pedido de um vereador bolsonarista com o argumento de que a exposição seria "publicidade". Já o juiz afirmou que os painéis representam dano ao patrimônio histórico. A prefeitura de Juiz de Fora anunciou que vai recorrer da decisão e pedir a liberação da mostra. "O prédio do Espaço Cultural Bernardo Mascarenhas sempre foi utilizado para manifestações artísticas, como a Cantata de Natal, sem que houvesse qualquer dano ao patrimônio histórico", afirmou a prefeitura em nota.

Publicações - Uol

MEMORIAL NOSSOS PASSOS VÊM DE LONGE

Foto: reprodução/@southaferreira

Data - 19/07/2021

Local - viaduto do Centenário

Cidade - Duque de Caxias/RJ

Censor - desconhecido

Caso - Um mural que homenageava mulheres negras foi apareceu vandalizado na madrugada do dia 19 de julho de 2021, em Duque de Caxias. Inaugurada há poucas semanas, a obra é de autoria de Rodrigo Mais Alto e Kleber Black e realização da Iniciativa de Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR). Na madrugada de domingo, os rostos de mulheres como Mãe Beata de Yemanjá, Silvia Mendonça, Nivia Raposo, Marielle Franco e Maria Conga amanheceram pintados de branco, vandalizando a obra de arte. Os autores da censura ainda não foram identificados.

Publicações - Jornal Extra

FESTIVAL DE JAZZ DO CAPÃO

Data - 12/07/2021

Local - secretaria Especial de Cultura

Cidade - Brasília/DF

Censor - Poder Executivo (governo Federal)

Caso - O Festival de Jazz do Capão, com origem na Bahia, foi impedido de captar recursos da lei Rouanet por razões ideológicas. Um parecer da Funarte publicado nesta semana cita como justificativa da desaprovação um post de 2020 nas redes sociais, em que o perfil do Festival se declarou "antifascista e pela democracia". Com menções religiosas como "A Arte é tão singular que pode ser associada ao Criador", o parecer diz que o projeto apresenta "desvio de objeto", ainda que o mérito do projeto não faça qualquer menção política. Pelo twitter, o secretário nacional de Incentivo e Fomento à Cultura, confirmou a censura financeira: "A cultura não ficará mais refém de palanque político/partidário, ela será devolvida ao homem comum. A lei é muito clara, dinheiro para cultura não pode financiar nada além das ações culturais". Porciúncula é quem dá a palavra final sobre projetos enviados à Lei Rouanet desde que o trabalho do Conselho Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) foi interrompido, já que desde o início do ano o governo ainda não lançou edital para selecionar os novos membros do Conselho.

RODA BIXA

Data - 14/05/2021

Local - Fundação Cultural de Itajaí

Cidade - Itajaí/SC

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - A livre "Roda Bixa", do projeto Criança Viada Show, foi censurada no dia 14 de maio de 2021, por ordem da prefeitura de Itajaí/SC. O evento virtual, que seria realizado no dia seguinte, envolvia uma roda de conversa sobre cultura LGBTQI e havia sido contemplado por um edital municipal com recursos da Lei Aldir Blanc. A censura aconteceu depois que o secretário especial de Cultura, Mário Frias, criticou o projeto em suas redes sociais. Citando o Estatuto da Criança e do Adolescente, além da censura, a prefeitura também determinou "a imediata destituição dos membros componentes da comissão local responsável pela seleção dos projetos culturais da Lei Federal nº 14.017/2020, Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc", conforme nota oficial. Os produtores do projeto explicaram no instagram que "Criança Viada Show é um projeto de memória e registros de cinco artistas homossexuais, que falam, em formato de podcast e vídeo, sobre suas trajetórias, vidas e existências enquanto homens LGBTQIA+. O projeto é feito por e para adultos, nunca tendo sido dito nada diferente disso na divulgação do projeto". A prefeitura da Itajaí também informou que pediu ao Ministério Público uma investigação contra o projeto.

Relato do artista - "Em nada nos surpreende que conclusões equivocadas acerca de violações de direito da criança e do adolescente tenham sido tiradas quando visto que a equipe de produção do projeto (e seu proponente) em momento algum tenham sido consultados sobre o teor do projeto e/ou da live. Quando o Município de Itajaí vem a público dizer que 'abrirá procedimento administrativo com o objetivo de apurar os fatos e também determinou à Superintendência Administrativa das Fundações que notifique o proponente para a suspensão da live de lançamento do projeto' em sua nota tornada pública, o mesmo age de forma arbitrária e improcedente, visto que os esclarecimentos poderiam ter sido pedidos e concedidos sem nenhuma necessidade legal."

SUAVES BRUTALIDADES

Data - 13/05/2021

Local - Banco da Amazônia

Cidade - Belém/PA

Censor - gestor público

Caso - A exposição "Suaves Brutalidades", do artista visual Henrique Montagne Figueira, estrearia nesta quinta-feira (13) de forma virtual e presencial no espaço cultural do banco da Amazônia, mas foi cancelada pela própria instituição. O governo federal, que detém a maior parte das ações do banco de economia mista, havia lançado um edital para selecionar artistas em agosto de 2020. Contemplado, Montagne deveria receber R$ 25 mil para executar o projeto mas, diante da demora da instituição em realizar o pagamento, arcou sozinho com a verba necessária. Seu trabalho tem como eixo principal a temática LGBTQIA+, com imagens homoeróticas. Dias antes de iniciar a montagem, o artista foi informado de que a exposição estava cancelada. O motivo alegado foi a situação da covid-19 no estado, mas a instituição não permitiu que a exposição fosse realizada em ambiente virtual. Em seu instagram, Montagne relatou que o projeto teve que ser submetido à Secretaria de Comunicação do governo federal e que outra artista, também vencedora do edital, já havia conseguido realizar uma exposição completamente virtual, opção que não foi concedida a ele. Em nota à Folha de São Paulo, o Banco da Amazônia afirmou que "o fechamento do espaço cultural é decisão de trato interno, destinada a reduzir a circulação de pessoas no hall de entrada da instituição."

Relato do artista - "No dia 04 de maio deste ano, semana passada, recebi um e-mail do Banco agendando uma reunião para o dia seguinte (05/05), na qual supostamente seriam feitas tratativas finais para a assinatura do contrato necessário à realização do projeto. Para a minha surpresa, a reunião, realizada sem qualquer formalidade, foi para comunicar o cancelamento da assinatura do contrato. A justificativa dada pelo Banco foi: a crise do COVID-19 impossibilitaria a realização de qualquer evento público. É no mínimo contraditória a justificativa do Banco: o edital foi publicado DURANTE a pandemia, com a abertura de inscrições iniciada em agosto de 2020. Nessa época, a pandemia já não era mais novidade. Além disso, uma das artistas selecionada no edital conseguiu adaptar o seu vernissage à modalidade virtual, com transmissão pelo Youtube. Durante as tratativas com a administração do Banco, que demonstrou interesse em continuar com essa adaptação, sempre apresentei propostas e soluções para que fizéssemos o mesmo com meu projeto."

Publicação - Folha de São Paulo.

PALESTRA DE VINICIUS CAMPOS

Foto: reprodução

Data - 15/04/2021

Local - Escola Santa Cecília

Cidade - Fortaleza/CE

Censor - empresa

Caso - O escritor Vinicius Campos, autor do livro "O amor nos tempos do blog", radicado em Buenos Aires, foi convidado pelo Colégio Santa Cecília, uma escola privada, para participar de lives com alunos de algumas turmas do sétimo ano. Embora aborde o livro há muitos anos, esta foi a primeira vez que a escola havia convidado o autor para uma palestra. Após o primeiro encontro, no entanto, uma professora pediu a Vinicius, casado com um homem e pai de três adolescentes, que não falasse de assuntos relacionados à "questão de gênero". "Segundo a professora, que estava incomodada por ser a portadora de tal pedido, o momento atual do país complicava esse tipo de posicionamento", disse em suas redes sociais, explicando porque a segunda live com os alunos havia sido cancelada. Ao Observatório, Vinicius contou que a escola chegou a pedir desculpas pelo ocorrido, mas não reiterou o convite para a palestra após o autor ter publicado sobre o caso em seu perfil no instagram. Em nota à nossa equipe, a escola afirmou que "qualquer ação que venha a diferir dessas premissas não condiz com o nosso fazer e o nosso posicionamento como Instituição, motivo pelo qual reafirmamos o nosso pedido de desculpas. Lamentamos pelo ocorrido e deixamos aberto o nosso canal de diálogo."

ENQUADRO

Data - 11/12/2020

Local - Paço Municipal de Porto Alegre

Cidade - Porto Alegre/RS

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - 'Enquadro', trabalho do artista Santiago Pooter que aborda violência policial, foi retirado de uma exposição pela prefeitura de Porto Alegre no dia 11 de dezembro de 2020. A obra, composta por um Boletim de Ocorrência registrado por um guarda municipal contra o artista sob a acusação de crime ambiental por um trabalho realizado anteriormente, foi removida com a justificativa de ferir a Lei de Proteção de Dados. Mesmo após o artista concordar em suprimir os dados pessoais do agente público, ela continuou fora da exposição, uma vez que não houve acordo - o artista propôs alterar sua obra no sentido de acrescentar novos documentos. Em artigo para o Nonada, o professor de artes visuais Guilherme Mautone explicou: "A alternativa sugerida pelo artista previa, além da supressão dos dados, a inserção de novas camadas documentais no trabalho que tornassem pública toda a cadeia de tratativas institucionais — uma prática comum na arte contemporânea e que prevê uma ‘processualidade’ da obra diante do reconhecimento das múltiplas reverberações contextuais de sua apresentação, suscitando a ideia de Umberto Eco sobre a ‘obra aberta’, continuamente em acontecimento." No dia 23 de dezembro, diante do impasse e da não resolução da questão, o artista decidiu retirar sua obra definitivamente da mostra. Em nota, a prefeitura de Porto Alegre afirmou que "para evitar prejuízos legais para o artista, para a curadora e para as instituições organizadoras do evento, alguma medida rápida deveria ser tomada. A partir do momento em que ficamos cientes da irregularidade, o mais prudente – e atendendo a sugestão da própria curadora, foi a retirada temporária da obra da exposição." A Lei Geral de Proteção de Dados, em seu artigo 4, no entanto, determina que a lei não se aplica ao tratamento de dados pessoais utilizados para fins exclusivamente artísticos".

Relato do artista - "Na última sexta-feira (11/12) um dos meus trabalhos que está na exposição do '4° Prêmio de arte contemporânea' da @afpoa foi alvo de comoção por parte do corpo de Guardas Municipais responsáveis pelo zelo do Paço Municipal da @prefeitura_poa . O corpo de Guardas se uniu no intento de coagir a meu trabalho e suprimir minha proposta para a exposição. Exposição que se intitula 'Insurgentes'. Trata-se de um trabalho em que realizei uma instalação que joga com o entendimento de imagens e palavras por meio de ritmo e poesia. (...) Parte desta instalação é composta por um Boletim de Ocorrência, realizado em 2019, ocasião na qual fui denunciado durante uma intervenção artística na rua, apreendido por dois Guardas Municipais e levado para a Delegacia Civil. Meu trabalho foi silenciado e não tive nenhum suporte."

CANÇÕES INVOLUNTÁRIAS

Data - 20/09/2020

Local - prefeitura de Porto Alegre

Cidade - Porto Alegre/RS

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - Em dezembro de 2020, o músico André Paz publicou uma série de entrevistas musicadas por ele como contrapartida pelo recebimento de recursos da prefeitura de Porto Alegre advindos de um edital. Uma das criações do artista, criada a partir de uma entrevista com o artista João Pedro Cé, teve que ser alterada por ordem da prefeitura. Com o argumento de que não era permitida manifestação política nos trabalhos do edital, a prefeitura de Porto Alegre determinou ao artista que ele retirasse o nome de Jair Bolsonaro da obra, restando uma menção indireta ao presidente: "Argumentei que não se tratava de conteúdo político partidário, era apenas a menção a uma figura pública, e que o assunto era psicologia. Não adiantou. A versão publicada pelo perfil da prefeitura teve suprimida o nome Jair Bolsonaro. Vejo como uma forma de censura velada", afirmou o artista à equipe do Observatório.

GRAFITE DE MARIELLE FRANCO

Foto: reprodução

Data - 20/05/2020

Local - Avenida Maurílio Biagi

Cidade - Ribeirão Preto/SP

Censor - desconhecido

Caso - Um mural de autoria do grafiteiro Áureo "Lobão" Melo amanheceu pichado em maio de 2020, em uma avenida de Ribeirão Preto. O grafite, criado em 2018, homenageia a vereadora Marielle Franco, morta a tiros no mesmo ano. A pichação incluiu palavras misóginas na arte de Lobão, alterando, desta forma, o conteúdo e a estética da obra de arte. O ataque foi criticado por entidades como a OAB municipal, segundo nota divulgada à imprensa: "A mensagem pichada afronta a história dos movimentos sociais e das lutas das minorias, já que Marielle era parte significativa dos ganhos políticos de mulheres, negras e LGBTI”. O Ministério Público ainda investiga o caso.

Publicações - Estadão Conteúdo, Portal G1

ROSALVA, MÃOS DE FADA

Data - 05/03/2020

Local - editora Paulinas

Cidade - Porto Alegre/RS

Censor - empresa

Caso - O livro "Rosalva, Mãos de Fada", do escritor Celso Sisto, foi retirado do catálogo da editora Paulinas no dia 05 de março, por pressão de clientes da editora, que teriam acusado a obra de fazer apologia ao suicídio. A editora enviou uma carta ao autor, afirmando que "nos últimos dois anos temos recebido muitas críticas e observações a respeito do texto que segundo reclamantes, induz ao suicídio. Resistimos em continuar com a obra no catálogo, mas a pressão tem aumentado muito e chegamos a triste conclusão que não poderemos mais correr o risco de uma denúncia mais grave que afete a editora e ao próprio autor." Com a censura, os 1700 exemplares do livros deixarão de circular, a menos que o próprio autor compre os livros diretamente da editora. Conforme a professora Maria Castilho Costa, no artigo "Isto não é censura", o ato censório "tende a fazer com que o público, a quem a obra se destina, seja privado de seu conteúdo."

Relato do artista - "Não justifica a atitude covarde e medrosa da Editora Paulinas!!!! O que me parece é que a mesquinharia capitalista é a causa do "descarte": se o livro deixa de vender muito a fúria mercenária das editoras religiosas não quer mais. Fica registrado aqui o meu repudio à tal atitude, sem nenhum tipo de debate ou tentativa de preparar os leitores superficiais e de "orelhas" e pais sem conhecimento de causa!"

TODXS XS SANTXS RENOMEADO #EUNÃOSOUDESPESA

Foto - reprodução

Data - 28/02/2020

Local - Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica

Cidade - Rio de Janeiro/RJ

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - A exposição "Todxs xs santxs - renomeado - #eunãosoudespesa", do artista Órion Lalli, foi suspensa no dia 28 de fevereiro de 2020, por ordem da Secretaria Municipal de Cultura do RJ. A censura ocorreu dias depois de uma intensa campanha online de deputados do PSL contra a mostra, que estava no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica. Uma obra em especial foi a mais perseguida pelos deputados. A obra traz uma imagem de uma santa com um seio nu e pênis, além da frase "Deus acima de tudo, gozando acima de todos". Segundo o artista, a mostra, que já estava classificada para maiores de 18 anos, parte da vivência de Órion enquanto LGBTQI+ e soropositivo. A prefeitura afirmou que o processo de suspensão será definido judicialmente e que "reafirma seu compromisso com o respeito constitucional à liberdade religiosa e a todas as crenças".

Relato do artista - "Estão dizendo que é a imagem de uma santa cristã, mas não é. É a minha santa. É o meu oratório. Precisamos falar sobre meu corpo que vive com HIV, contextos históricos da arte, dadaísmo, futurismo e expressões artísticas muito mais velhas do que esses que querem me acusar de algo, de um crime, que não cometi” (em entrevista à Folha).

FESTIVAL CARNABIS

Janete saiu para beber - reproduçao

Data - 24/02/2020

Local - Recife Antigo

Cidade - Recife/PE

Censor - Polícia Militar

Caso - O show da banda Janete Saiu para Beber, dentro do festival Carnabis, no Carnaval de Recife, foi interrompido por intervenção da Polícia Militar no dia 24 de fevereiro de 2020. Segundo relatou o próprio grupo, a intervenção ocorreu quando eles tocavam a música "Banditismo por uma questão de classe", de Chico Science, música que denuncia a violência policial. Conforme os relatos, a PM ameaçou prender o vocalista caso eles continuassem o show, sob o argumento de que Chico Science seria "música de briga". Em acordo com os organizadores do evento, a banda interrompeu o show, que continuou com os demais grupos. Relatos apontam que houve tentativa de censura, sem sucesso, com show da banda Devotos e do cantor China em outras áreas de Recife. A PM publicou nota oficial afirmando que a intervenção ocorreu porque a banda havia ultrapassado o horário previsto.

Relato do artista - "A gente tava fazendo nosso tributo a Chico Science e Sheik Tosado la na rua do apolo , a galera tava curtindo o show fazendo a roda de pogo sem problema nenhum, logo na sequencia chegou um grupo de policias e ficaram por perto , até ai a gente não se preocupou pois achávamos que era rotina deles para olhar o movimento,mas se eu não me engano três policias entraram em contato com os organizadores do evento informando que se nosso vocalista continuasse cantando ele iria das voz de prisão a ele, e os policias que estavam na rua fizeram uma fileira bem em frente ao palco, separando a banda do público no momento que a gente estava tocando 'Banditismo por uma questão de classe'. Foi aí então que um dos organizadores pediu para que o show encerrasse naquele momento para não ter nenhum problema com a polícia. Em nenhum momento xingamos a policia que estava no local. Mas o evento continuou normalmente com as bandas seguintes. Eles disseram que chico science era "som de briga", mas nenhum momento teve confusão por parte do publico." (Daniel, baterista, em relato ao Observatório)

"Estando na condição de ser um dos responsáveis pela produção, me identifiquei e convidei o oficial cordialmente para conversar no espaço mais reservado.A primeira abordagem feita era de imediato acabar o evento, mas nós estávamos documentados e autorizados a realizar o evento, dentre outras tratativas justifiquei ao capitão da patrulha que o evento não poderia acabar por que ele está autorizado a acontecer, apresentei lhe as anuências e disse que muito embora a produção esteja resguardada documentalmente o nosso papel não era bater de frente e sim encontrar uma solução.O capitão ordenou que o show da banda terminasse imediatamente e poderia dar voz de prisão ao vocalista da banda meu amigo César Braga por conta do discurso dele alegando que aquelas palavras eram desacato e que a música do Chico Science era música de 'briga'” (Du Lopes, produtor, em relato no facebook).

LIVROS

Imagem - reprodução

Data - 06/02/2020

Local - Secretaria de Educação de Rondônia

Cidade - Porto Velho/RO

Censor - Poder Executivo (governo estadual)

Caso - Um memorando da Secretaria de Educação de Rondônia começou a circular nas redes sociais no dia 7 de fevereiro. Com assinatura eletrônica que comprova a autoria, o documento apresentava uma lista de mais de 40 livros que deveriam ser recolhidos das escolas, pois estavam classificados como "inadequados". Com a rápida repercussão negativa, o governo primeiramente negou a autoria do documento, depois admitiu a censura e recuou da decisão. A lista continha livros de autores como Machado de Assis, Caio Fernando Abreu, Carlos Heitor Cony, Euclides da Cunha, Ferreira Gullar, Nelson Rodrigues, Mário de Andrade, Rubem Fonseca, Franz Kafka e Edgard Alan Poe. Além disso, constava no documento que "todos os livros de Rubem Alves" também deveriam ser recolhidos.

Publicações - Conjur, Publishnews

RUÍNA

Data - 06/02/2020

Local - Galeria Municipal de Arte de Balneário Camboriú

Cidade - Balneário Camboriú/SC

Censor - gestor público (autarquia)

Caso - A exposição "Ruína" teve sua visitação interrompida pela Fundação Cultural (órgão que administra a Galeria Municipal de Balneário Camboriú) no dia 6 de fevereiro. A mostra, que havia sido selecionada para receber patrocínio via lei de Incentivo à Cultura, continha cenas de nudez, mais especificamente com imagens de ânus, da artista Luluca L., e era classificada para maiores de 18 anos. A Fundação informou que recebeu uma denúncia anônima de "um cidadão incomodado com os conteúdos das obras" e interrompeu a mostra.

Publicações - Folha

MOVIMENTO BAQUE MULHER

Foto - Baque Mulher no Recife (Sedac/Pernambuco)

Data - 22/01/2020

Local - orla da Praia Brava

Cidade - Matinhos/PR

Censor - Polícia Militar

Caso - A Polícia Militar interrompeu um ensaio aberto do grupo Baque Mulher em Matinhos/PR, além de apreender instrumentos e deter 3 mulheres. O Baque Mulher é um movimento nacional de maracatu liderado por mulheres negras. A censura ocorreu quando a PM recebeu reclamações de moradores sobre o grupo, que ensaiava à luz do dia na orla. Os policiais interromperam com violência o ensaio, apreendendo instrumentos sem qualquer mandato judicial e obrigando 3 artistas a entrarem na viatura. A integrante do grupo Ananda Graf relatou: "O grupo parou de tocar e os policiais pediram 2 instrumentos para levar a delegacia, depois mudou de ideia e exigiu 3 instrumentos, mesmo assim as agressões continuaram (inclusive uma das meninas vai passar por corpo delito). Três mulheres foram coagidas de forma violenta (coordenadoras do grupo) a entrar na viatura e irem para a delegacia. Um dos policiais chamou de vadia uma das coordenadoras que tentava conversar e pedir por seus direitos." Confira aqui um vídeo do momento em que ocorreu a censura.

Relato do artista - "Neste momento três de nossas companheiras do Baque Mulher estão detidas na delegacia de Matinhos (Paraná) com alegação de desacato, resistência e perturbação!A Polícia Militar hoje dia 22/01/2020 abordou na Praia Brava de Matinhos mulheres que fazem parte do Baque Mulher de forma muito agressiva. Eram 8 policiais em quatro viaturas alegando barulho. Esta "denúncia" foi feita por um morador de um prédio em frente a praia (perto do meio-dia). Elas ensaiavam maracatu embaixo de uma árvore entre o calçadão e a areia da praia. Os ensaios acontecem uma vez por semana durante uma hora e meia e como eu disse: na praia, quase na areia. O grupo parou de tocar e os policiais pediram 2 instrumentos para levar a delegacia, depois mudou de ideia e exigiu 3 instrumentos, mesmo assim as agressões continuaram (inclusive uma das meninas vai passar por corpo delito). Três mulheres foram coagidas de forma violenta (coordenadoras do grupo) a entrar na viatura e irem para a delegacia. Um dos policiais chamou de vadia uma das coordenadoras que tentava conversar e pedir por seus direitos. Eu faço parte do Baque Mulher de Matinhos há mais de um ano, este grupo é um coletivo grande que possue sede em várias cidades do Brasil e inclusive em Portugal. Nossa Mestra é a Mestra Joana Cavalcante, a primeira mulher a comandar uma Nação de Maracatu de Baque Virado, é um símbolo de empoderamento feminino e de cultura popular em Pernambuco e agora em todo o Brasil para o mundo." (Ananda Graf)

PORTA DOS FUNDOS

Foto: divulgação

Data - 08/01/2020

Local - Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro

Cidade - Rio de Janeiro/RJ

Censor - Poder Judiciário

Caso - O desembargador Benedicto Abicair, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, determinou liminarmente que o Porta dos Fundos e a Netflix retirem do ar o “Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo”. O especial tem sido atacado por grupos conservadores e religiosos por apresentar um Jesus Cristo homossexual. Em primeira instancia, a Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura teve o pedido de retirada do filme negado, mas recorreu da decisão. Fica proibida ainda a exibição de "trailers, making of, propagandas, ou qualquer alusão publicitária ao referido filme". Em segundo grau, o desembargador acatou a censura, mas o processo ainda será julgado no mérito e poderá ser revertido. Confira a íntegra da liminar. A Netflix e o Porta dos Fundos podem recorrer da decisão, que foi revertida no STF.

TRAJETÓRIAS NEGRAS BRASILEIRAS

Data - 19/11/2019

Local - Câmara dos Deputados

Cidade - Brasília/DF

Censor - Poder Legislativo (deputado)

Caso - A censura diz respeito a uma das obras expostas na mostra Trajetórioas Negras Brasileiras, aberta para marcar o Dia da Consciência Negra na Câmara. Uma charge do cartunista Latuff, que aborda a violência policial contra a juventude negra, foi destruída pelo deputado federal Coronel Tadeu (PSL) na tarde do dia 19. O ato é considerado censura por este Observatório, dentro dos critérios adotados (veja mais no "Sobre"), na medida em que o vandalismo impede o público de ver a obra e fere o direito à livre expressão do artista. A obra já foi replicada e colocada de volta à mostra.

Relato do artista - "O policial se jacta tanto que é preparado, ‘tiro, porrada e bomba’, mas não resiste a uma charge. Reage dessa maneira. O painel não tem como se defender. Uma charge impressa não tem como se defender. É um ataque covarde contra um painel" (Latuff, em entrevista à Folha)

Algumas publicações - O Globo, Folha, IstoÉ

ENFIM, CAPIVARAS

Imagem - divulgação

Data - 13/11/2019

Local - Feira do Livro de Nova Hartz

Cidade - Nova Hartz/RS

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - A escritora Luisa Gleiser teve sua participação na Feira do Livro municipal cancelada há duas semanas do evento, com a justificativa de que seu livro "Enfim, Capivaras" contém"linguajar inadequado." O livro traz a história de omenino Binho, "um mentiroso contumaz e agora passou dos limites: inventou que tem uma capivara de estimação. Narrado durante as doze horas de uma noite regada a álcool, salgadinhos, segredos e romances mal resolvidos, Enfim, capivaras explora, através de diferentes pontos de vista, os relacionamentos entre um grupo de adolescentes em busca de uma capivara – ou muito mais do que isso."

Relato da artista - "Eu vi como censura a partir do momento que a prefeitura adquiriu livros que os alunos não terão acesso. Mais do que a minha fala ser censurada, esses livros não vão circular. Porque uma coisa é não gostar de certas palavras. Mas é esse discurso totalitário de 'não vamos falar disso' que me incomoda mais." (Em entrevista ao G1)

Algumas publicações: G1

ISTO NÃO É ARTE

Imagem - divulgação

Data - 23/10/2019

Local - Espaço Cultural Correios

Cidade - Niterói/RJ

Censor - gestor público

Caso - A exposição "Isto não é arte", de Gabriel Grecco, inauguraria em dezembro no centro cultural. Segundo o artista, a instituição pediu que ele retirasse da mostra duas obras, o que fez com que o artista optasse por cancelar o evento. Uma das telas mostra uma criança armada vestindo uma camiseta que remete ao Capitão América, enquanto a outra traz um homem, também portando arma de fogo, com uma tatuagem de suástica. O centro cultural argumentou que não queria gerar polêmicas e que as obras continham “imagens sem aderência aos seus princípios de gestão cultural”.

Relato do artista - "Foi uma surpresa porque nas telas não há nada de política nem contra o governo. Se tenho uma proposta de exposição aprovada e não posso colocar as obras que quero nela, isso é censura". (Entrevista a O Globo)

Algumas publicações - O Globo, BandNews

UNIVERSO FEMININO

Foto - Janaína Reis

Data - 20/10/2019

Local - Centro Municipal de Educação Adamastor

Cidade - Guarulhos/SP

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - Cinco fotografias da fotojornalista Janaina Reis foram retiradas da mostra Universo Feminino por ordem do prefeito do município. As fotos registram o ato "Ele Não" em São Paulo, realizado espontaneamente por mulheres que criticavam o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro. Em áudio vazado nas redes sociais, o prefeito ordena à secretaria de cultura: “Fazer uma menção contra um governo federal que acabou de começar? Vocês têm dez minutos para retirar isso, tudo que faça menção às questões políticas, partidárias, nominais, eu quero fora”. Segundo Janaina, um vídeo postado por uma pessoa nas redes sociais que afirmava que a mostra era "contra o presidente" contribuiu para que o prefeito censurasse as obras. A mostra era organizada pelo coletivo Fotógrafas Guarulhenses. Em nota, a prefeitura afirmou que o espaço "é um espaço público inapropriado para manifestações de cunho político".

Relato da artista - "A censura aconteceu na segunda exposição do nosso coletivo, que tinha como tema o universo feminino. Em nenhum momento, o prefeito tentou entrar em contato conosco para se informar. Soubemos que as fotos foram retiradas por um veículo de imprensa daqui. A imprensa local começou a dizer que o coletivo é um coletivo partidário. O coletivo não é vinculado a nenhum partido político, as fotos estavam dentro do contexto da exposição, repesentando o momento de luta política das mulheres brasileiras". (Janaína Reis, em depoimento ao Nonada).

Algumas publicações - Folha

GRAFITE COM GRETA THUNBERG

Imagem - Drielkson Ribeiro/divulgação

Data - 1/10/2019

Local - viaduto São Cristóvão

Cidade - Sinop/MT

Censor - desconhecido

Caso - Um grafite com o rosto da ativista ambiental Greta Thunberg, de autoria do artista acreano Matias Souza, amanheceu vandalizado três dias depois de ser pintado como parte de um evento de grafite, que promovia a revitalização do espaço público em Sinop. A frase "Lula tá preso babaca" foi pichada em cima do grafite, o que também constitui censura conforme os critérios utilizados por este Observatório (lei mais aqui). Na tarde do dia 30, o grafite, juntamente com outra obra do grafiteiro amazonense Raiz Campos, com a figura do cacique Raoni, havia sido criticado por parlamentares ligados ao agronegócio na Câmara de Vereadores. A prefeitura afirmou que a imagem será apagada e substituída por um animal presente na região.

Algumas publicações - Revista Fórum, Uol

CARANGUEJO OVERDRIVE

Foto - divulgação

Data - 28/09/2019

Local - Centro Cultural Banco do Brasil

Cidade - Rio de Janeiro/RJ

Censor - gestor público

Caso - Dentro da programação do festival "CCBB - 30 anos de Cias", a Aquela Cia foi convidada a apresentar dois espetáculos de seu repertório, Caranguejo Overdrive e Guanabara Canibal. Conforme informa a companhia, menos de 10 dias antes do início das apresentações, com a pré-produçao já em andamento, o CCBB informou ao grupo que Caranguejo Overdrive não poderia mais ser apresentado, mas nao apresentou justificativas para o cancelamento. Com dramaturgia de Pedro Kosovski e classificação indicativa de 18 anos, a peça se passa em 1870 e aborda as remoçoes urbanísticas na cidade do Rio de Janeiro, passando também pelos fatos políticos brasileiros desde as Diretas Já até a atualidade. Confira a resenha do Nonada - Jornalismo Travessia. Apesar de cancelado, o espetáculo ainda está nas platafromas de divulgação do CCBB.

Relato do artista - "Infelizmente situações como essa vem se tornando cada vez mais recorrentes nas instituições de cultura do Brasil e, mais especificamente, no contexto de celebração de uma instituição do porte do CCBB, só poderíamos manifestar o nosso pesar. Acreditamos que as instituições culturais públicas devem fazer jus a pluralidade da sociedade brasileira, e não simplesmente acatar a um dirigismo. Gostaríamos também de manifestar, mais uma vez, nossa solidariedade aos artistas e grupos que nos últimos tempos vem sofrendo com atitudes unilaterais e perseguições" (Comunicado).

LEMBRO TODO DIA DE VOCÊ

Foto - Giovana Cirne

Data - 19/09/2019

Local - Caixa Cultural do Rio de Janeiro

Cidade - Rio de Janeiro/RJ

Censor - gestor público

Caso - Espetáculo musical de sucesso da companhia Núcleo Experimental, Lembro Todo dia de Você estrearia entre os dias 10 e 20 de outubro no centro cultural. Poucos dias antes da estreia, quando o espetáculo já estava na fase de pré-produção e preparação da logística, o grupo foi informado que a temporada havia sido cancelada. A peça traz como personagem central um soropositivo e também aborda questoes LGBT. A Caixa apresentou como justificativa para o cancelamento uma reforma no teatro onde estrearia a peça, mas se recusou, até o momento, em remarcar a temporada ou agendar o espetáculo para outras cidades. A produção é uma das vencedoras do edital de ocupação da Caixa, que determina que as apresentações ocorram até até 2020.

Algumas publicações - Folha, Observatório do Teatro

GRITOS

Foto - Renato-Mangolin/divulgação

Data - 17/09/2019

Local - Caixa Cultural Brasília

Cidade - Brasília/DF

Censor - Poder Executivo (Governo Federal)

Caso - O espetáculo Gritos, da Cie Dos à Deux, estrearia na Caixa Cultural Brasília entre 19 e 22 de setembro, junto a Aux Pieds de la Lettre, outro espetáculo do grupo. Ambos foram aprovados pela Caixa. No entanto, após envio de material de divulgação para a Secretaria Especial de Comunicação Social do governo Federal, a instituição foi informada que o espetáculo Gritos não poderia ser apresentado. Segundo a companhia, a Secom solicitou a Caixa mais detalhes da sinopse de Gritos, espetáculo que traz como personagem a travesti Louise. Nenhuma informação adicional foi solicitada a respeito do outro espetáculo.

Com base nos critérios descritos pela professora da USP Maria Cristina Castilho Costa, o Nonada - Jornalismo Travessia considera este fato um ato de censura velada. A professora afirma que "a censura se manifesta através de ações judiciais, de pressão econômica, de assédio moral, de atitudes políticas de iniciativa do Estado mas, hoje, disfarçada de proteção, política de comunicação, defesa da ordem social. Para identificá-la precisamos lançar mão de recursos interpretativos que nos permitam evidenciar a intenção de silenciamento da oposição política, da crítica e da denúncia ideológica."

Relato do artista - "Infelizmente, em que pese o empenho dos representantes da Caixa Cultural, não foi possível realizar o projeto na configuração originalmente planejada, que incluía o espetáculo GRITOS. A Cia Dos à Deux reitera o seu compromisso com a liberdade de expressão e afirma que continuará lutando contra toda forma de censura, seja ela velada ou explícita" (Comunicado em redes sociais).

MARIGHELLA

Foto: divulgação

Data - 12/09/2019

Local - Ancine

Cidade - Brasília

Censor - Poder Executivo

Caso - O filme Marighella, de autoria de Wagner Mouro e produção da O2 Filmes, sofreu diversos atos censórios até ter sua estreia finalmente confirmada em novembro de 2021. Em setembro de 2019, o filme teve dois pedidos de liberação negados pela Ancine por questões burocráticas. Em janeiro de 2020, enquanto ainda tentavam a liberação da distribuição, Wagner Moura afirmou à coluna de Leonardo Sakamoto no Uol que o filme estava sob censura. "Como grande empresa, a [produtora] O2 não pode chegar e dizer que a Ancine censurou o filme. Mas eu posso. Susteno o que já disse. É uma censura diferente, mas é censura, que usa instrumentos burocráticos para dificultar produções das quais o governo discorda. Não há uma ordem transparente por parte do governo para que isso aconteça, no entanto já vimos Bolsonaro publicamente dizer que a cultura precisa de um filtro. E esse filtro seria feito pela Ancine”. No dia 25 de abril de 2021, houve nova ação censória, quando a Ancine mandou arquivar o processo de lançamento alegando que a própria produtora havia pedido o arquivamento, informação prontamente negada pela empresa. Nos eventos de lançamento, produtores e o realizador voltaram a afirmar que Marighella foi censurado por dois anos até finalmente ser lançado.

ABRAZO

Foto - divulgação

Data - 07/09/2019

Local - Caixa Cultural Recife

Cidade - Recife/PE

Censor - gestor público

Relato - A instituição cancelou a temporada de apresentações do grupo Clowns de Shakespeare logo após a realização da sessão de estreia, que ocorreu no sábado (7). A Caixa alegou que o grupo descumpriu cláusulas contratuais, mas sem detalhar imediatamente o que teria causado o descumprimento. Selecionado pelo edital "Programa de Ocupação dos Espaços Caixa Cultural", o espetáculo "Abrazo" uma obra voltada para o público infanto-juvenil. Num lugar em que não é permitido abraçar, personagens atravessam um quadrado contando histórias de encontros, despedidas, opressão, exílio, afeto e liberdade. A peça é inspirada na obra "O Livro dos Abraços", de Eduardo Galeano. Atualização - Cinco dias depois do cancelamento, a instituição afirmou ao grupo que houve descumprimento do " inciso VII da Cláusula Quarta, que prevê que a contratada seja obrigada a “zelar pela boa imagem dos patrocinadores, não fazendo referências públicas de caráter negativo ou pejorativo”, e que isso teria ocorrido no bate-papo realizado após a primeira sessão.

Relato do artista - "Ainda sem ideia do que poderia ser alegado, uma vez que não reconhecemos nada que pudesse gerar esse tipo de reação, e diante da ausência de informações adicionais, não conseguimos imaginar outra razão para essa rescisão que não seja censura ao nosso trabalho e pensamento.Dessa forma, nesta quinta, 12/09, foi aberto um processo judicial apresentando um pedido de tutela antecipada em caráter antecedente, junto à 2a Vara Federal da Justiça Federal/PE." (Nota oficial).

Algumas publicações - O globo, Uol

BIENAL DO RIO

Foto - reprodução

Data – 07/09/2019

Local – Riocentro

Cidade – Rio de Janeiro/RJ

Censor – Poder Executivo (prefeitura) e Poder Judiciário

Caso – Na noite do dia 5 de setembro, quinta-feira, o prefeito do Rio de Janeiro publicou um vídeo nas redes sociais anunciando que estava determinando aos organizadores da Bienal que retirassem o livro “Vingadores - A Cruzada das Crianças”, que continha um beijo entre dois meninos adolescentes, dos estandes. A Bienal reagiu afirmando que não retiraria os livros, que acabou se esgotando na manhã do dia seguinte. À tarde, fiscais da prefeitura foram à Bienal, de forma extrajudicial, com o objetivo de confiscar não só o livro citado como qualquer outro de temática LGBT, mas não acharam mais nenhum livro com o tema. No mesmo dia, a Justiça concedeu liminar à Bienal garantindo o direito à venda dos livros. No dia 7 de setembro, o presidente do Tribunal de Justiça do RJ suspendeu a decisão que barrava a apreensões, permitindo, dessa forma, que os fiscais censurassem os livros. Os funcionários voltaram à Bienal na tarde do dia 7, mas novamente não encontraram nenhum livro para apreender. Na mesma tarde, o Youtuber Felipe Neto distribuiu 14 mil livros com conteúdo LGBT que havia adquirido na Bienal na noite anterior. No dia 8, o STF determinou que é ilegal a apreensão dos livros.

Relato dos organizadores – “Consagrada como o maior evento literário do país, a Bienal do Livro mantém sua programação para o fim de semana, dando voz a todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser. Este é um festival plural, onde todos são bem-vindos e estão representados” (Comunicado)

Algumas publicações - Uol, El País, Exame

INDEPENDÊNCIA EM RISCO

Foto - divulgação

Data – 03/09/2019

Local – Câmara de Vereadores de Porto Alegre

Cidade – Porto Alegre/RS

Censor – Poder Legislativo

Caso – A exposição Independência em Risco trazia cartuns de 1 cartunistas, com a temática da liberdade de expressão. Ainda que a presidência da Câmara já tivesse autorizado a mostra, voltou atrás na decisão horas depois da abertura, atendendo pedido de outro vereador para que a exposição fosse impedida de ocorrer. O argumento para o fechamento da mostra foi a presença de charges ofensivas, especialmente um cartum com críticas a Jair Bolsonaro, que mostrava o presidente lambendo o sapato de Donald Trump, de Latuff. Atualização - Em 12 de setembro, os cartunistas conseguiram na Justiça o direito de ter as obras expostas novamente na Câmara. A presidência da Casa prometeu não recorrer.

Relato do artista – “O tema da exposição Independência em Risco parece que foi realmente um título muito apropriado para os tempos que estamos vivendo. A própria atitude de vereadores como Valter Nagelstein demonstram bem que esse título está correto. Não só a nossa independência, a nossa soberania que está em risco, como também algo muito caro às democracias que é a liberdade de expressão” (Latuff, em entrevista ao Sul21)

Algumas publicações - Sul 21, Folha

DANÇA DAS CADEIRAS

Foto - divulgação

Data – 1 de setembro de 2019

Local - shopping Ponteio

Cidade – Belo Horizonte/MG

Censor – empresa

Caso – Uma cadeira com pintura do artista Breno Barbosa foi retirada da exposição “Dança das Cadeiras”, com o argumento de que a obra era um “atentado ao pudor”. A obra, que representava a figura de um homem nu, foi transferida para a Carminha Macedo Galeria Arte.

Relato do artista – “O Zé é uma criação em homenagem aos designers de móveis que admiro como Jorge Zalsupin e Joaquim Tenreiro, uma brincadeira irônica com o glamour e o luxo, e sobretudo uma espetada na hipocrisia social, no falso moralismo e no desejo obsceno por poder tão exaltados atualmente” (Breno Barbosa, em entrevista ao portal Fórum).

Algumas publicações - Revista Fórum, Estado de Minas

DI UMA VEZ POR TODAS

Foto - divulgação

Data – 31/08/2019

Local – teatro local

Cidade – Teofilo Otoni/MG

Censor – sociedade civil

Caso – Conhecido por interpretar Dilma Rousseff, o humorista Gustavo Mendes teve seu show interrompido pelos próprios espectadores, após o artista fazer críticas a Bolsonaro durante a apresentação. Parte dos espectadores passaram a discutir com o humorista e pedir o dinheiro de volta. A Polícia Militar também foi acionada por espectadores. O show foi interrompido.

Relato do artista – “Vocês já devem estar sabendo o que rolou em Teófilo Otoni, uma tentativa de censura, mas comigo não violão, comigo não. Eu fiz uma piada com o Bolsonaro, no meu papel do comediante, e algumas pessoas se revoltaram e tentaram impedir o show. Eu botei eles para correr, botei para fora do meu show, porque fascista não tem lugar no meu show. A causa é maior, o problema deles não era político, não era piadas com política. Porque eles me conhecem, eu sou o Gustavo Mendes, eu pautei minha carreira em cima de política. O problema deles era o fascismo e o autoritarismo e achar que podiam calar um artista que sempre fez questão de ter voz, de falar suas posições mesmo que isso me custasse um alto preço. Censura não e eu quero contar com todos vocês que são contra a censura para não deixar esse autoritarismo covarde e cruel tomar conta do país”. (Mendes, no Instagram)

Algumas publicações - IstoÉ, Uol

3ª MOSTRA DO FILME MARGINAL

Foto - divulgação

Data – 23/08/2019

Local - Centro Cultural da Justiça Federal

Cidade – Rio de Janeiro/RJ

Censor – gestor público

Caso – Três filmes foram vetados do festival por decisão do Centro Cultural, com o argumento de a instituição não exibir “produções de cunho corporativo, religioso ou político-partidário”. Dois filmes foram acusados de criticar o presidente Jair Bolsonaro: "Mente aberta" (2019) apresentava um áudio de Bolsonaro, "Rebento" (2019) trazia a frase “Repulsa ao presidente”. O terceiro filme, "Nosso sagrado" (2017), é um documentário sobre a intolerância contra as religiões de matriz africana. Por não concordarem com a decisão, os organizadores cancelaram a programação prevista para ocorrer no Centro.

Relato dos organizadores – “Após o envio da programação, a instituição nos comunicou sobre a impossibilidade de exibição de três filmes selecionados. Não concordamos com o entendimento da instituição e nos posicionamos contrário a postura da mesma" (comunicado).

Algumas publicações - Pipoca Moderna, O globo

FESTA

Imagem - divulgação

Data - 21/08/2019

Local - Viaduto das Artes

Cidade - Belo Horizonte/MG

Censor - desconhecido

Caso - Oito fotografias da artista visual paraense Berna Reale foram furtadas na madrugada do dia 21. Com três metros de altura e quatro metros de largura, as obras integravam "Festa", primeira mostra individual da artista. As fotografias mostravam policiais de farda comendo doces, além de uma obra em que meninos vestindo cuecas com estampa de fast-food estavam postos contra a parede. Câmeras de segurança das redondezas registraram o furto. Depois da 1h da madrugada, um grupo de homens equipados com capacetes usados na construção civil retiram as obras, que ainda estão desaparecidas.

Relato da artista - "FURTARAM meus trabalhos 8 Fotografias! MEU PROTESTO será doar a todos que quiserem principalmente os que moram em BH esta fotografia que está no link 👆🏼acima na minha bio" (Instagram)

Algumas publicações - O Tempo, Folha de S.Paulo, O Globo

EDITAL COM FILMES LGBT

Foto - divulgação

Data - 21/08/2019

Local - Ancine

Cidade - Rio de Janeiro/RJ

Censor - Poder Executivo (governo Federal)

Caso - O Ministério da Cidadania decidiu cancelar um edital em andamento, que selecionaria obras para transmissão em TVs públicas. O motivo foi a presença de finalistas da linha de “diversidade de gênero”, que trazia três obras com temática LGBT: “Afronte”, “Transversais” e “Religare queer”. O anúncio foi feito após críticas de Jair Bolsonaro aos filmes via transmissão ao vivo nas redes sociais. Os filmes escolhidos como vencedores receberiam R$400 mil do Fundo Setorial do Audiovisual, principal meio de financiamento do cinema no Brasil. Após o anúncio, o então secretário de Cultura, Henrique Pires, renunciou ao cargo por não concordar com a atitude do Ministério.

Relato do artista - "Pra mim, é uma clara sinalização de censura. Apesar de ele negar, a partir do momento em que diz que produções LGBT não vão receber recursos, é censura" (diretor Émerson Maranhão em entrevista a O Globo)

Algumas publicações - O globo, Huffington Post

RES PUBLICA 2023

Foto - divulgação

Data – 18/08/2019

Local - Complexo Cultural da Funarte

Cidade – São Paulo/SP

Censor – gestor público

Caso – O espetáculo “Res Publica 2023”, da Companhia Motosserra Perfumada, estava previsto para estrear em outubro. Segundo o grupo, “a peça foi concebida em fevereiro de 2016, no calor de manifestações políticas que dividiam (e continuam dividindo) o país, e que têm mais recentemente tensionado a relação entre Arte e Cidade, questionando o papel do artista na sociedade brasileira”. No dia 18 de agosto, o grupo foi informado de que a estreia estava cancelada porque o espetáculo não reunia “qualidade artística” para ocupar o espaço. Até este ano, os espetáculos eram realizado por ordem de chegada no espaço. Novo diretor da Funarte, Roberto Alvim afirmou que vai mudar o sistema, filtrando espetáculos que considere inadequados. “A curadoria sob a minha gestão não aceitará mais peças com viés ideológico, seja de esquerda ou de direita, e que não sejam obras de arte”, afirmou, entrevista a O Globo.

Relato do artista – “Com esse gesto de censura – que, a rigor, nem lhe caberia, afinal, sua função no Governo é administrativa e não curatorial, cabendo-lhe no máximo nomear curadores, não curar espetáculos – Roberto Alvim mandou avisar que não medirá esforços contra peças que exponham qualquer conteúdo que lhe pareça crítico com relação ao Governo, fazendo prevalecer a patrulha ideológica sobre qualquer critério artístico. No fundo, o novo Diretor do Ceacen da FUNARTE apenas cumpre a surrada agenda do bolsonarismo: criar polêmicas morais e ideológicas, principalmente com artistas, para adiar o conhecimento público da inoperância do seu Governo, da debilidade administrativa e mental do seu Presidente e da farra dos interesses privados sobre as riquezas materiais e simbólicas do Brasil” (Carta Aberta).

Algumas publicações - Observatório do Teatro, O globo

SHOW DE LINN DA QUEBRADA

Foto - Mariana Smania/divulgação

Data – 02/08/2019

Local – desconhecido

Cidade – João Pessoa/PB

Censor – Poder Executivo (prefeitura)/gestor público

Caso – O show da cantora trans Linn da Quebrada que ocorreria na Parada LGBT de João Pessoa no dia 29 de setembro foi cancelado pela organizadora do evento, Fundação Cultural de João Pessoa, que afirmou que havia recebido uma “orientação” e que o discurso de Linn seria “muito pejorativo”.

Relato do artista – “Estávamos desde Julho em negociação com a Frankla (co-organizadora do evento), cumprimos todos os processos burocráticos para a realização do show. Porém, após uma reunião da organização da parada, juntamente com a FUNJOPE, recebemos a informação de que o show não aconteceria. A justificativa do veto se deu pelo posicionamento que Linn da Quebrada tem como artista, consequentemente seu trabalho, e o que a mesma representa como corpo político (...)Agora mais do que nunca cada encontro nosso, cada agrupamento é muito importante & fundamental pelo que podemos levantar, transtornar & fortalecer. O que mais me deixa triste é não poder realizar esse encontro agora nesse momento tão importante & delicado.” (Linn, pelo Twitter)

Algumas publicações - O Dia, Folha

SHOW DE BNEGÃO

Foto - divulgação

Data – 27/07/2019

Local – Centro de Múltiplo Uso

Cidade – Bonito/MS

Censor – Polícia Militar

Caso – O show da banda BNegão e o Seletores de Frequência, que ocorreu dentro da programação do Festival de Inverno de Bonito, foi interrompido por policiais militares após o artista tecer críticas a Jair Bolsonaro e contra a violência policial. A prefeitura se manifestou com uma nota de repúdio à atitude dos músicos.

Relato do artista – “Não só acabaram com o show, como expulsaram a galera empurrando, com cassetete, mostrando arma e jogando gás de pimenta. Estão tentando transformar [o Brasil] em um Estado policial. O prefeito falou depois que não é para fazer manifestação política. Então é censura total.” (BNegão, em entrevista ao Portal Uol)

Algumas publicações - Uol, Combate Rock

BIO-I

Foto - divulgação

Data – 23/07/2019

Local - Pinacoteca Aldo Locatelli

Cidade – Porto Alegre/RS

Censor – gestor público/ Poder Executivo (prefeitura)

Caso - Antes da abertura da exposição BIO-I, de David Ceccon, na Pinacoteca Aldo Locatelli, foi pedido ao artista que retirasse 4 obras da mostra. Ceccon negou-se e expôs as obras mesmo assim. No entanto, no dia da abertura (23/07), teve que retirar uma delas, uma escultura que misturava as formas dos órgãos sexuais masculino e feminino. A alegação foi de que a pinacoteca da prefeitura de Porto Alegre "não era um local de arte".

Relato do artista – “Na terça-feira dia 23/07/2019, mais ou menos às 18h, retirei uma das esculturas da série Untitled antes da abertura da exposição BIO-I. Durante a apresentação do projeto de exposição à Coordenação de Artes da Prefeitura, mais ou menos uma semana e meia antes da abertura, me foi convidado a não apresentar essa série neste espaço específico, a casa do poder executivo do município de Porto Alegre. Foi-me sugerido colocar, em seu lugar, algum outro trabalho. Ao refletir sobre essa situação, tomei a escolha de colocar os trabalhos no espaço. Primeiramente, por serem parte vital do meu processo artístico. Segundo, e mais importante, por assumir um posicionamento político e artístico frente a essa situação. Mesmo que tivesse que retirar os trabalhos do local, a escolha seria, então (como ocorreu), deixar o espaço vazio na parede, para não mascarar que esta conversa havia acontecido, bem como para pensarmos no por que de certos trabalhos não poderem ser vistos ou debatidos. No dia da abertura da exposição, recebi uma ligação horas antes da vernissagem, em que me foi solicitado remover as 4 obras da série de esculturas que estavam no local. Após uma segunda conversa, momentos antes da abertura, acordamos em retirar apenas a primeira das 4 esculturas, que foi a considerada ‘mais explícita’” (Ceccon, em relato ao Nonada)

Algumas publicações - Zero Hora, Portal g1

COROAÇÃO DE NOSSA SENHORA DAS TRAVESTIS

Foto - divulgação

Data – 19/07/2019

Local – desconhecido

Cidade – Belo Horizonte/MG

Censor – Poder Executivo (prefeitura)

Caso – O espetáculo, do grupo teatral Academia Transliterária, era uma das 447 atrações previstas para a Virada Cultural da cidade. Após uma petição online assinada por 15 mil pessoas que acusava o evento de “blasfêmia e afronta contra os cristãos”, o prefeito anunciou o cancelamento do espetáculo, que trazia uma personagem trans no papel de uma santa. Em nota, o Instituto Periférico, organização da sociedade civil (OSC) selecionada por edital para realizar a Virada Cultural, afirmou que “na medida em que uma parte da sociedade sentiu-se duramente ofendida, optou-se, então, pela suspensão da atividade”.

Relato do artista – “Extrapolamos o real, não pretendemos mais performar para mostrar o mundo como ele é, para isso temos as estatísticas, temos a convivência. Nós performamos como transformar o mundo. Nós tornamos a nossa representação em si real, uma revanche. (...)Coroação de Nossa Senhora das Travestis: um atraque literário é, portanto, uma celebração da potência que vive em cada travesti. Mas é também um encontro com todas as outras potências de todas as outras pessoas ali presentes, sejam trans, cis, hétero, homo, não binárias, intersexo ou como se identificam e seguem suas existências”. (Comunicado)

Algumas publicações - Portal g1, Uai

M´BAI

Foto - divulgação

Data – 16/07/2019

Local - Centro Cultural Mestre Assis

Cidade – Embu das Artes/SP

Censor – desconhecido

Caso – Aberta no dia 6 de julho, a mostra M'Bai amanheceu com trinta das quarenta obras destruídas no dia 16 de julho. Com itens como vasos de cerâmica e quadros, todas as obras eram de autoria de artistas indígenas. Não houve indícios de arrombamento nas entradas do prédio.

Relato do artista – “Manifesto meu profundo repúdio ao ato de vandalismo à mostra, que ocasionou na destruição de algumas obras de artes dos artistas expositores, inclusive a minha. Peço à Secretaria de Cultura de Embu das Artes a devolução da minha obra (em seu estado atual de ‘destruída’) após o ato criminoso que ocasionou na descaracterização da obra original.” (Thiago Carvalho Wera´i, no Faceebok).

Algumas publicações - Folha, Select, Veja

SERAFINA NORDESTINA E TRIBUTO AOS ORIXÁS

Foto - divulgação

Data – 14/07/2019

Local – Praça das Artes

Cidade – Embu das Artes/SP

Censor – desconhecido

Caso – A escultura Serafina Nordestina, de autoria da artista Helaine Malca, amanheceu partida ao meio no dia 14 de julho. A obra era a representação de uma mulher do nordeste e era uma das 50 integrantes da mostra ‘Esculturas na Praça’. A obra Tributo aos Orixás, do artista Marcos Roberto, também foi vandalizada e com várias miniaturas roubadas. O escultor retirou a obra para reparos.

Relato da organização – “Nós, artistas, nos sentimos violentados com esta agressão. Pedimos a todos que dividam conosco e com o policiamento a responsabilidade de cuidar da praça, das esculturas e da limpeza. Estamos colaborando com o Embu para cada vez mais valorizar o nosso sobrenome: das Artes.” (Comissão organizadora, em comunicado)

Algumas publicações - Revista Circuito, Embu das Artes

FACADA FEST

Foto - divulgação

Data – 6/07/2019

Local – Mercado de São Brás

Cidade – Belém/PA

Censor – Polícia Militar

Caso – Policiais Militares interromperam e forçaram o cancelamento do festival de punk Facada Fest III, em Belém. Ataques ao festival estavam sendo realizados desde junho, quando um deputado federal se manifestou nas redes sociais contra a realização do evento. O vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro também atacou o evento pelas redes sociais. “Tá valendo tudo nesse país da putaria da esquerda. Está na hora de agir antes que seja tarde, porque eles já mostraram ao que vieram e não têm mais vergonha alguma de esconder isso", disse.

Relato dos organizadores - "O Facada Fest surgiu da união de bandas autorais de rock (em especial de hardcore e punk) de Belém e região metropolitana, além de alguns coletivos de produtores e produtoras culturais independentes, todos unidos pela mesma causa: o rock raiz, o rock de protesto e de debates sociais. O nome “facada” é intencionalmente provocativo, sim, mas a nossa intenção é puramente a de tratar essa nomenclatura por abordagem de sátira e escárnio, linguagens presentes na música, literatura e arte como um todo desde sempre" (Em entrevista ao Último Segundo)

Algumas publicações - Último Segundo, Combate Rock, Blog do gerson

O SANGUE NO ALGUIDÁ, UM OLHAR DESDE O REALISMO SUJO LATINO-AMERICANO

Foto - divulgação

Data – 13/06/2019

Local – Museu dos Correios

Cidade – Brasília

Censor – gestor público

Caso – Prevista para estrear no Museu dos Correios (do governo federal), a mostra teve cinco obras vetadas pela direção. Após o artista goiano Gerson Fogaça e o escritor cubano Pedro Juan Gutiérrez não concordarem com o veto, a mostra foi cancelada e transferida para o Museu da República, instituição do Distrito Federal. A justificativa da censura foi a presença de cenas de nudez, marcantes na literatura de Gutiérrez e retratadas nas telas.

Relato da curadora – “Só se eles não leram o material. Lá estava tudo explicado. O Fogaça narra visualmente a estética do Juan Pedro, que envolve sexualidade. Não são construções sexuais, ele traz representações do trabalho do autor cubano, que aborda a miséria e a sexualização no cotidiano das pessoas” (produtora Malu da Cunha, em entrevista ao Metrópoles)

Algumas publicações - Metrópoles, Correio Braziliense

O QUE PODE UM CASAMENTO (GAY)?

Foto - divulgação

Data – 29/05/2019

Local – Centro Cultural Banco do Nordeste

Cidade – Fortaleza/CE

Censor – gestor público

Caso – Item da instalação “O que pode um casamento (gay)?”, uma faixa com a frase “Em terra de homofóbicos, casamento gay é arte” foi retirada da frente do prédio. Segundo os artistas Eduardo Bruno e Waldírio Castro, haveria uma reunião para discutir a permanência da obra, mas a faixa foi retirada antes do encontro. Após a decisão, os artistas decidiram retirar as demais obras da mostra. Em solidariedade, outros artistas também retiraram todas as peças que compunham o 70ª edição do Salão de Abril no local, transferindo a mostra para o Centro Cultural Belchior. Em nota, o Banco do Nordeste afirmou que a obra estaria "descaracterizando a fachada do prédio e comprometendo sua identidade visual".

Relato dos artistas - "Pediram para retirar a faixa, alegando que ela só poderia ficar no dia da abertura. Então, expliquei que a faixa fazia parte da instalação e deveria ficar na área externa do Centro Cultural até o dia 30 de junho, conforme fomos autorizados. Nos falaram, ainda, que o Banco não pode vincular a marca a esse tipo de frase. Romperam nosso direito de expressão e não fizemos nada de forma ilegal. Passamos por curadoria, fomos selecionados. A faixa não incita violência, não tem palavra de baixo calão. A homofobia é tão forte que, mesmo numa obra pensada para falar principalmente sobre afeto, ela chega nesta instância” (Eduardo Bruno, em entrevista ao jornal O Povo)

Algumas publicações - O Povo, Diário do Nordeste, Portal g1

BEIRAGE

Foto - Daniel Brás/ divulgação

Data – 16/05/2019

Local – Biblioteca Pública Hélio Pinto Ferreira

Cidade – São José dos Campos/SP

Censor – Poder Executivo (prefeitura)/gestor público

Caso – Financiado pelo Fundo Municipal de Cultura de São José dos Campos, o livro Beirage, de George Furlan, teve sua distribuição gratuita às bibliotecas públicas e às escolas da cidade cancelada, após pressão de deputados conservadors contra o livro. Entre os 70 poemas, dois sofreram ataques, uma vez que continham palavrões e críticas a Bolsonaro, às bancadas da bala e agropecuária e aos militares. Além do cancelamento da distribuição, também houve a censura de um sarau relativo ao livro, que seria realizado na Biblioteca Pública Hélio Pinto Ferreira. Em nota, a Fundação Cultural Cassiano Ricardo, responsável pela gestão cultural, afirmou: "Nos próximos editais, esse fato deixará de ocorrer porque constará que o proponente deverá entregar, antecipadamente, o respectivo texto, com a denominação de publicação de obra inédita em literatura."

Publicações - Carta Maior, O Vale

TAPETE EM HOMENAGEM A MARIELLE

Foto - reprodução

Data – 21/04/2019

Local – ruas de Ouro Preto

Cidade – Ouro Preto/MG

Censor – guarda municipal

Caso – No dia 21 de abril de 2019, em procissão durante a Semana Santa, um guarda municipal destruiu um tapete feito de serragem em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro. Vídeo divulgado nas redes sociais mostra o momento em que ocorreu a censura. Na mesma hora, participantes protestaram e se indignaram com a destruição. A confecção de tapetes é parte da cultura popular do Brasil, especialmente em datas religiosas. Em nota, o comando da Guarda Municipal alegou que a ação foi feita pois o tapete tinha cunho político: "Quanto ao episódio onde os agentes municipais desmancham desenhos de cunho político entre outros que nenhuma relação possuem com os “tapetes devocionais”, informamos que a liberdade de expressão não é absoluta ainda mais quando outros direitos estão sendo afetados. O recado já foi dado em 2018, em 2019 não foi diferente. Respeitem Ouro Preto, nossas tradições. Vale salientar que os guardas só desmancharam os tapetes com os pés, porque não tínhamos outro instrumento."

Publicações - Exame/Estadão, O Colecionador de Sacis, O Tempo, Veja

LITERATURA EXPOSTA

Foto - Leticia Sabbatini / Mídia NINJA

Data – 13/01/2019

Local – Casa Brasil-França

Cidade – Rio de Janeiro/RJ

Censor – Poder Executivo (governo estadual)

Caso – A mostra Literatura Exposta foi cancelada no último dia em cartaz pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. A programação do dia incluía uma performance com críticas à tortura na Ditadura Militar, incluindo duas atrizes interagindo com a obra “A voz do ralo é a voz de deus”, que trazia áudios do torturador Brilhante Ustra. Curador da exposição, Álvaro Figueiredo afirmou que o governo já tinha conhecimento de que haveria nudez na performance, argumento usado para cancelar a mostra. A performance foi realizada na rua no centro da cidade.

Relato do curador –“Censura à exposição Literatura Exposta! Fecharam nossa exposição um dia antes da data oficial como forma de impedir que as performances da finissage acontecessem. Comuniquei com antecedência o teor das performances à direção da Casa, foi autorizado e ontem à noite enviaram esse comunicado. Esse é o governo que temos. A arte vai sobreviver aos ignorantes” (Redes sociais)

Algumas publicações - Portal G1, O Globo

DESTERRO

Imagem - cartaz distrubuído por classe artistas em apoia à frase censurada

Data – 09/01/2019

Local – Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim

Cidade – Caxias do Sul/RS

Censor – Poder Executico (prefeitura)

Caso – Uma intervenção na obra Desterro, da artista Nil Kremer, teve uma frase apagada pela equipe de manutenção da Secretaria Municipal de Cultura de Caxias do Sul/RS em 9 de janeiro de 2019. A obra era interativa e incentivava os visitantes a responderem à pergunta "o que o corpo comporta?" escrevendo ou desenhando no painel. No dia 9, a frase "Guerra, nos deixe em paz" escrita por um visitante amanheceu apagada. A direção da galeria confirmou que a própria equipe da Secretaria havia censurado a frase, uma vez que Guerra é o sobrenome do prefeito da cidade e a frase teria então conotação política, alegou a direção. A classe artística da cidade se uniu para protestar e distribuir cartazes contra a censura.

Publicações - Pioneiro

A SEMENTE DO NICOLAU
DATA - 21/12/2018

Local - Colégio Le Petit Galois

Cidade - Brasília/DF

Censor - empresa privada

Caso - Uma escola particular de Brasília retirou o livro infantil "A Semente do Nicolau" da lista de leituras do semestre. A censura ocorreu após pais de alunos reclamarem da escolha, uma vez que o livro é de autoria do então deputado Chico Alencar. O deputado criticou a censura em entrevista ao portal Congresso em Foco. “Sectarismo autoritário estimulado pelo tal ‘Escola sem Partido’, sem reflexão crítica, sem solidariedade, com mordaça, sem Natal.”

Publicações - Congresso em Foco

O MUNDO EM 10 ANOS

Foto - divulgação

Data – 26/11/2018

Local - Espaço Cultural Antiga Igreja Matriz

Cidade – Dois Irmãos/RS

Censor – Poder Executivo (prefeitura)

Caso – Organizada pela Pinacoteca da Universidade Feevale, a exposição O Mundo em 10 anos teve obras atacadas nas redes sociais. Em especial, sofreram críticas telas com representações como uma transexual crucificada, mulheres nuas e referências políticas. Em nota, o vice-prefeito alegou que “o conteúdo não era adequado para um espaço público”.

Relato da artista – “A exposição se chamava "O Mundo em 10 anos" e era uma convocatória de arte postal do Projeto Circular - coletivo de serigrafia da Universidade Feevale. Cinco obras foram consideradas "impróprias" e geraram revolta no Facebook, fazendo com que primeiro a exposição fosse fechada e depois reaberta sem as cinco obras. Uma das obras considerada polêmica e imprópria foi a minha, que mostrava uma passeata feminista com bordados de flores sobre o postal. Obras das minhas colegas e amigas artistas que também foram consideradas polêmicas: um postal com uma mulher trans crucificada da Adriana Tesche e a um desenho de uma vulva da Leila Groth Ibarra. (Anna Rosa, em relato ao Nonada)

Algumas publicações - O Diário, O Diário

MENINOS SEM PÁTRIA

Data - 02/10/2018

Local - Colégio Santo Agostinho

Cidade - Rio de Janeiro/RJ

Censor - escola

Caso - O livro "Meninos sem Pátria" havia sido indicado para os alunos do 6º ano da escola. De autoria de Luiz Puntel, a obra aborda o exílio de um jornalista perseguido pela Ditadura Militar em 1964. Após publicação de uma página nas redes sociais, que acusava o livro de ser "doutrinação ideológica", pais passaram a pressionar a escola para impedir a indicação do livro. A escola cedeu à pressão.

Relato do artista - "Eu fiquei surpreso. Meu livro é sobre a ditadura, um fato histórico. Jamais imaginei que, em 2018, seria censurado. Meninos Sem Pátria rendeu mais de 20 edições, sempre com boa aceitação do público e, principalmente, das escolas, que o recomendam para leitura didática. Não faz sentido acusá-lo de doutrinação ou proselitismo ideológico." (Puntel, em entrevista a El País)

Algumas publicações - Veja, El País

MURAL LIBERDADE

Foto - reprodução

Data – 1/08/2018

Local – Praça da Liberdade

Cidade – Belo Horizonte/MG

Censor – desconhecido

Caso – Feita com autorização do Instituto Amado, em parceria com a prefeitura para colori os tapumes de um prédio, uma pintura amanheceu pichada em Belo Horizonte no primeiro dia de agosto. Era uma obra da artista Patrícia Caetano, que retratou uma mulher nua com a frase “Respeita as Minas” no mural finalizado no dia 22 de julho. A pichação cobriu os mamilos e a genitália do desenho.

Relato do artista – “Queria homenagear e, ao mesmo tempo, pedir respeito. Respeito aos nossos corpos. Respeito ao nosso direito de ir e vir. Não quis fazer nada agressivo” (Patrícia Caetano, em entrevista ao Estado de Minas.)

Algumas publicações - Estado de Minas, Hoje em Dia

CORPARTE: CORPO E ARTE, PARTE E COR

Foto - Sylvia Triginelli

Data – 13/06/2018

Local – Universidade Federal de Minas Gerais

Cidade – Belo Horizonte/MG

Censor – gestor público

Caso – De autoria da artista Sylvia Triginelli, a mostra “Corparte: corpo e arte, parte e cor”, que retratava corpos nus de mulheres negras e gordas, foi censurada pela Escola de Belas Artes da universidade. O trabalho era parte da conclusão de uma disciplina da faculdade e foi interrompido pela superintendência da universidade logo após a montagem, com a alegação de que a nudez não deveria ser exposta em espaço público. Em resposta, alunas do curso protestantam no pátio da universidade, defendendo que o Ministério Público Federal já se manifestou afirmando que a nudez, desde que sem conotação sexual ou erótica, não é proibida. Após o protesto, a mostra foi liberada, com classificação livre.

Publicações - Estado de Minas, Hoje em Dia

GRAFITE SEM NOME

Foto - reprodução/Facebook

Data – 01/05/2018

Local – Instituto Goethe

Cidade – Porto Alegre/RS

Censor – desconhecido

Caso – Um grafite no muro eterno do Instituto amanheceu pichado no primeiro dia de maio. De autoria de Rafael Augustaitiz e Amaro Abreu, a obra trazia a imagem de uma cabeça decapitada, cujo rosto era similar a Jesus. Com a pichação, a cabeça foi pintada com tinta preta, ao lado da frase “Ele ressuscitou”. O ato foi publicizado nas redes sociais pelo Centro Dom Bosco, que não assumiu a autoria da censura. Em nota, o Instituto Goethe afirmou que “Em nenhum momento foi intenção do projeto ou do Instituto ofender sentimentos religiosos. O Goethe-Institut, como instituição cultural presente em mais de 90 países, dialoga intensamente com as sociedades locais e fomenta a discussão, participação e atuação artística e cultural. Lamentamos manifestações que incitem o ódio e as ameaças à liberdade de expressão”.

Relato do artista – Em entrevista ao jornal Zero Hora, Rafael descreveu a obra como “Teorlogia 171” e afirmou que a obra simbolizada a transformação de Jesus em um demônio.

Algumas publicações - Veja, Zero Hora, Jornal do Comércio

CASTANHA DO PARÁ

Foto - divulgação

Data – 16/04/2018

Local – Parque Shopping Belém

Cidade – Belém/PA

Censor – empresa

Caso – A capa da HQ “Castanha do Pará”, do quadrinista Gidalti Moura Jr, foi retira de exposição no shopping após pressão nas redes sociais. A obra mostra um policial militar em ato de repressão contra um menino negro no Mercado Ver-o-Peso. O shopping e a organização da mostra afirmaram em nota conjunta que “a mudança ocorreu diante de manifestações de frequentadores do shopping que se sentiram incomodados com a cena de violência, no espaço que é frequentado por crianças”.

Relato do artista - "É imperdoável tomar partido pela opressão. Isso é um erro e precisa ser apreciado. Quando pessoas agressivas e extremistas atuam nas redes sociais e acabam influenciando as decisões na prática, isso é perigoso. E acho que foi isso que aconteceu nesse caso. O problema não é a ignorância de certas pessoas, isso é inevitável. O problema é quando uma instituição dá voz a um grupo de pessoas tão desinformados, que não têm argumentos, que estão pautados na violência e na mentira." (Gidalti, em entrevista ao Uol)

Algumas publicações - Ponte, Uol, Revista Cult

SANTIFICADOS

Imagem - divulgação

Data - 13/03/2018

Local - Centro de Cultura Ordovás

Cidade - Caxias do Sul/RS

Censor - Poder Executivo (prefeitura)

Caso - A exposição "Santificados", com 20 obras do artistas Rafael Dambros, trazia quadros que abordavam o nu masculino a partir de representações de santos católicos. A mostra estava prevista para ser aberta no Centro Cultural Ordovás, da prefeitura, mas foi cancelada três dias antes da abertura com a jusitificativa de uma reforma no transformador de energia e consequente fechamento temporário do prédio. Só voltou a ser reaberta no final de 2018, na Câmara de Vereadores. Ainda assim, o artista, que já havia sofrido ameaças, voltou a ser atacado pela sociedade e por autoridades como o próprio prefeito, que soltou nota proibindo escolas municipais de visitarem a mostra. Apesar dos ataques, a exposição seguiu até o final de novembro.

Relato do artista - "A exposição é resultado de uma pesquisa de três anos junto a referências de imagens e textos bíblicos. Selecionei alguns da iconografia católica, como São Francisco, São Roque e Santa Verônica, fazendo uma releitura mais contemporânea desses ícones. A nudez não é sexual, muito menos de corpo, é uma nudez da verdade. Quando trabalhamos com imagem, utilizamos signos que remetem a essa interpretação" (Entrevista ao jornal O Pioneiro)

Algumas publicações - O Pioneiro, O Pioneiro

PEITO ABERTO

Foto - divulgação

Data – 24/10/2017

Local – hospital da região

Cidade – Vila Velha/ES

Censor – gestor público

Caso – Doze obras do artista Caio Cruz estavam em exposição no Teatro Municipal de Vila Velha. Com temática de prevenção ao Câncer de Mama, a mostra retratava mulheres que passaram pela cirurgia mastectomia. O artista foi convidado a expor suas obras em hospitais da região, mas uma delas foi impedida de ser exposta em um hospital por conter nudez. Segundo o artista, o hospital estudou colocar um pano preto diante da tela e, mais tarde, decidiu impedir a exibição.

Relato do artista - “Eu me senti desrespeitado como artista. Nós estamos sofrendo uma crise na arte e temos que aprender a desassociar a nudez artística da pornografia. Por outro lado, estou tendo todo o apoio do teatro e da galeria que fica ao lado.” (Caio Cruz, em entrevista ao g1)

Algumas publicações - Portal g1, Leia Já

EU AMO CUIABÁ

Foto - reprodução/Youtube

Data – 21/09/2017

Local – Shopping Pantanal

Cidade – Cuiabá/MT

Censor – empresa

Caso – Prevista para ocorrer até 29 de setembro, a mostra teve sua exibição interrompida pelo shopping após o vídeo de um frequentador do local viralizar nas redes, acusando a mostra a fazer apologia às drogas e à pornografia. Após o vídeo, um quadro foi retirado da mostra. A obra trazia a frase “crack is wack” (droga é ruim), com o desenho de duas pessoas consumindo droga. Posteriormente, toda a mostra foi cancelada.

Relato do artista - “Não podemos admitir censura de jeito nenhum. É perigoso voltar esse processo de censura à arte no Brasil. Se aceitarmos uma coisa dessas, daqui a pouco os artistas vão ficar até com medo de elaborar horas, com medo de ninguém aceitar mais. Aí a arte vai ficar limitada. (Gervane de Paula, um dos artistas censurados, em entrevista ao Hiper Notícias)

Algumas publicações - Hiper Notícias, Repórter MT

O EVANGELHO SEGUNDO JESUS, RAINHA DO CÉU

Foto - divulgação

Data – 15/09/2017 e 30/06/2018

Local – Sesc Jundiaí e Festival de Inverno de Garanhuns (FIG)

Cidade – Jundiaí/SP e Garanhuns/PE Censor – Poder Judiciário e Poder Executivo (governo e prefeitura)

Caso – O espetáculo, que traz uma personagem trans no papel de Jesus Cristo, estrearia no dia 16 em Jundiaí. Adaptação da dramaturga inglesa Jo Clifford, o monólogo abordar passagens bíblicas por um viés contemporâneo, refletindo sobre temas como a tolerância e o respeito às diferenças. Após ação ajuizada por uma advogada, o juiz Luiz Antonio de Campos Júnior, da 1ª Vara Cível da cidade proibiu a peça de ser apresentada na cidade em caráter liminar, afirmando que o espetáculo de “macula o sentimento do cidadão comum”. A decisão foi revertida somente em 21 de fevereiro de 2018, pelo desembargador José Luiz Monaco da Silva.

Também houve tentativa de censura em Garanhuns, no Pernambuco. Prevista para estrear em julho de 2018 no Festival de Inverno, a peça chegou a ter sua exibição cancelada pelo governo no final de junho, “diante da polêmica causada pela atração e da possibilidade de prejuízos das parcerias estratégicas e nobres que o viabilizam (o festival)”. A prefeitura também afirmou que vetaria a sessão. Um mês depois, no dia 24 de julho, o Tribunal de Justiça de Pernambuco de terminou que a peça fosse exibida, considerando o princípio da liberdade de expressão previsto no artigo 5º. Ação semelhante à de Jundiaí foi ajuizada em Porto Alegre no dia 18 de setembro de 2018, mas a Justiça decidiu manter a exibição da peça.

Relato da diretora - “O texto é baseado em uma mensagem de humanidade, proteção da vida e de como coletivamente é possível pensar em um mundo igualitário. A peça sonha com isso, perdoa a todos, é fundamentalmente cristã. Sem falar na interpretação de Renata, que é fantástica. Esses ataques vêm escancarar todo o preconceito. Eu aproveito e faço esse convite para quem critica: vem ver qual a ofensa na peça, qual a ofensa em ser travesti? Do nosso ponto de vista, não há nenhum.” (diretora Natalia Mallo, em entrevista ao Diário de Pernambuco).

Algumas publicações - Conjur, Folha, Diário de Pernambuco, Zero Hora

CADAFALSO

Foto - divulgação

Data – 14/09/2017

Local – Museu de Arte Contemporânea

Cidade – Campo Grande/MS

Censor – Poder Legislativo/Polícia Civil

Caso – Deputados estaduais do MS acionaram a polícia, registrando boletim de ocorrência com o pedido de que uma obra, intitulada “Pedofilia”, fosse retirada da mostra Cadafalso, assinada pela artista mineira Alessandra Cunha. A mostra tinha como tema a crítica à violência contra a mulher. Sem mandato ou ordem judicial, o delegado responsável pela Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca) apreendeu o quadro. O Museu se posicionou contrário à apreensão. No dia 16, a obra voltou a ser exposta no mesmo local.

Relato da artista – “Acredito que o tema é tão tabu, que não podemos nem tocar no nome. Não se pode nem usar a palavra ‘pedofilia’ para dar título a uma pintura que vão se ofender, já que na pintura em si não há nenhuma imagem de violência em si, ela apenas denuncia que isso existe em nossa sociedade.” (Em entrevista à Veja)

Algumas publicações - Uai, Campo Grande news, G1

MITRA, FOOD TRUCK EM NOME DE DEUS

Foto - divulgação

Data – 09/07/2017

Local – Centro Cultural Adamastor

Cidade – Guarulhos – SP

Censor – Poder Executivo (prefeitura)

Caso - Dois quadros foram retirados da exposição “Mitra, Food Truck em nome de Deus”, composta por 11 pinturas a óleo e acrílicas no dia 9 de setembro. As obras “Em nome do pai, do filho e do espírito santo” e “Corpo e o Sangue de Cristo”, do artista Ailton Diller Malaquias, abordavam “a pedofilia na Igreja” e “o modo como alguns religiosos vendem a imagem de Cristo”, segundo o artista, que afirmou que a Igreja foi a responsável por pressionar a prefeitura para a censura das obras. Além da retirada, a prefeitura também apagou informações sobre a mostra do site oficial. Em entrevista, o bispo da Diocese negou que tenha havido pressão. Já a prefeitura emitiu nota afirmando que o conteúdo das obras “era inapropriado ao público que circula pelo hall de exposições do Adamastor Centro. Embora a classificação etária fosse 16 anos, isso não impediu que pessoas (pais e responsáveis) com crianças se sentissem incomodadas pela facilidade ao acesso visual das obras”.

Relato do artista – “Sou de família católica, não tenho nada contra a religião, mas sou contra a hipocrisia religiosa. Aceito repudio ou que a pessoa possa discordar da história, promovo diálogo, mas censurar é coisa de ditadura” (Em entrevista ao Guarulhos Hoje)

Algumas publicações - Guarulhos Hoje, Guarulhos Hoje

QUEERMUSEU - CARTOGRAFIAS DA DIFERENÇA NA ARTE BRASILEIRA

Foto - reprodução

Data – 10/09/2017

Cidade – Porto Alegre/RS

Local – Santander Cultural

Censor – sociedade/empresa

Relato do curador – “Cinco membros do MBL, alternadamente, ingressam na exposição, na tarde do dia 6 de setembro de 2017, com câmeras, fazendo vídeos e abordando e assediando os visitantes, dizendo coisas que até hoje tenho dificuldade de repetir, mas estão nos mais de 10 mil vídeos no YouTube. Tem muitos que são difamatórios. Eles continuam esses ataques na sexta e no sábado, e o Santander fecha a exposição no domingo sem consultar a mim, como curador, nem a produção. Foi uma decisão unilateral. Essas narrativas falsas que eles construíram crescem e se juntam a narrativas de grupos ligados ao Bolsonaro e outros setores ultraconservadores da sociedade.” (Em entrevista ao El País)

Algumas Publicações - Extra, Estadão , Folha

Metodologia

Para delimitar o conceito de censura que baliza a edição do projeto, este Observatório usa como referência os critérios elencados pela socióloga Maria Cristina Castilho Costa, professora da Escola de Comunicações e Artes da USP e coordenadora do Observatório de Comunicação, Liberdade de Expressão e Censura da USP:

1. A censura é um ato que visa alterar, modificar, silenciar, interditar manifestações de produção simbólica – livros, revistas, charges, encenações teatrais, músicas, danças, pintura, desenho, notícias, conteúdos digitais, games.

2. Esse ato tende a fazer com que o público, a quem a obra se destina, seja privado de seu conteúdo, como desejado pelo(s) autor(es) e seu público;

3. É preciso que o ato censório se dê no espaço público ou nele repercuta. Quando um jornalista é impedido de publicar suas ideias diferentes das da direção da empresa para a qual trabalha (editorial), o jornal está impedindo que tais interpretações dos fatos se divulguem ao público leitor;

4. A censura atua de forma a inibir certos conteúdos, sua menção ou defesa, sua discussão, buscando apagar interpretações da realidade não oportunas a certos grupos. Tende também a promover a autocensura. Isso significa que a principal motivação do ato censório e que o caracteriza é seu cunho ideológico;

5. Os atos censórios tendem a ser justificados por razões morais e éticas, sempre vistas como universais e não históricas. Tendem também a ser considerados como forma de proteção a minorias, sejam elas crianças, mulheres, grupos étnicos ou em situação de risco;

6. A censura sempre explicita a interpretação de mundo que se torna inconveniente, indesejável e que se deseja silenciar;

7. O mais importante: o mundo que os atos censórios dizem defender não existe. Não há ideologias hegemônicas e sem dissidência, não há sociedade com relações afetivas, sexuais e familiares modelares, mas muitos arranjos pessoais, improvisados, dissidentes, inusuais, que assinalam para tendências de uma sociedade em movimento e em transformação;

8. A censura, onde quer que se manifeste, é sempre política, tem a ver com o exercício do poder, com privilégios, com dominação. Como afirma Pierre Bourdieu, as trocas simbólicas são um espaço de prática do poder. Por isso, mais uma vez, ela é histórica, temporal e datada. Dessa forma, qualquer tentativa de criar critérios supra-históricos é falsa.

Fonte: Isto não é censura – a construção de um conceito e de um objeto de estudo, de Maria Cristina Castilho Costa (2016)

Nonada Jornalismo

Somos uma organização sem fins lucrativos que entende a cultura para além da produção artística. Desde 2010, busca ecoar com viés decolonial as múltiplas vozes que formam a cultura brasileira, com enfoque em pautas sobre processos artísticos, políticas culturais, comunidades tradicionais, culturas populares, censura e direitos humanos, memória e patrimônio.


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